A galáxia, que uma equipa liderada por investigadores do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC), em Espanha, estima estar a 300 milhões de anos-luz da Terra, será dez vezes mais ténue do que outras galáxias anãs, mas também dez vezes mais extensa do que outras galáxias com um número comparável de estrelas.

“À luz do conhecimento atual não compreendemos como uma galáxia com tais características extremas pode existir”, afirmou, citada em comunicado do IAC, a astrofísica Mireia Montes, que coordenou a equipa.

A galáxia, a que foi dado o nome de “Nuvem” pela filha de um dos investigadores, tem uma aparência muito difusa que a tornam quase invisível mesmo quando observada por meio de telescópios.

Regra geral, as galáxias têm uma densidade muito maior de estrelas nas suas regiões internas, com a densidade a diminuir rapidamente à medida que as estrelas se afastam do centro.

Contudo, na galáxia “Nuvem” a densidade de estrelas varia muito pouco em toda a sua extensão.

Segundo os autores da investigação, publicada na revista científica Astronomy & Astrophysics, as simulações cosmológicas não são capazes de reproduzir as características peculiares desta galáxia, mesmo na base de diferentes cenários.

“Ficámos sem uma explicação viável dentro do modelo cosmológico atualmente aceite, o da matéria escura fria”, assinalou Mireia Montes, admitindo que “é possível” que com a galáxia “Nuvem” e outras eventualmente semelhantes possam ser encontradas “pistas adicionais” que abram “uma nova janela para a compreensão do Universo”.

O modelo da matéria escura fria pode reproduzir estruturas de larga escala no Universo, mas há cenários de pequena escala, como é o caso da galáxia “Nuvem”, aos quais não dá resposta.

De acordo com este modelo, a matéria escura seria constituída por partículas com uma velocidade bem menor do que a da luz, que interagem muito pouco com a matéria comum (matéria visível como planetas e estrelas) e facilmente se agrupariam formando estruturas como aglomerados de galáxias e galáxias.

Uma das hipóteses assumidas pelos autores do estudo é que as propriedades invulgares da galáxia “Nuvem” podem revelar que as partículas que compõem a matéria escura têm uma massa extremamente pequena.

A descoberta e a caracterização da galáxia “Nuvem” foram feitas com base em observações realizadas com o Grande Telescópio das Canárias, em Espanha, e o Radiotelescópio de Green Bank, nos Estados Unidos.