"Afirmamos que a nossa descoberta antecipa em cerca de mil milhões de anos o aparecimento de eucariotas multicelulares macroscópicas", declarou à AFP Maoyan Zhu, da Academia de Ciências de Pequim, coautor do estudo publicado na edição desta terça-feira da revista Nature Communications.

Embora bem fundamentado, o anúncio foi contestado por Jonathan Antcliffe, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. "Não devemos confundir eucariotas multicelulares com colónias de organismos unicelulares", alertou Antcliffe. As primeiras formas de vida que apareceram na Terra por volta de há 3,5 mil milhões de anos foram unicelulares: seres vivos constituídos de uma única célula sem núcleo, como as bactérias. As formas de vida complexas, como as plantas e os mamíferos, possuem células denominadas "eucariotas", com cromossomas abrigados dentro de um núcleo. Em geral, estudos anteriores estimam a existência de eucariotas há 635 milhões de anos.

Descobertos por Maoyan Zhu e pela sua equipa, os novos fósseis são impressões (167 no total) e foram encontrados em Gaoyuzhuang, no norte da China. Segundo o estudo, a maioria dos fósseis encontrados tem forma linear e até 30 centímetros de comprimento por oito de largura. "Certamente são os mais antigos eucariotas multicelulares", disse à AFP Philip Donoghue, da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Mas há quem discorde: "não estou totalmente convencido de que os eucariotas façam impressões, porque eles são homogéneos, simples em termos de morfologia, não existe diversidade", explicou à AFP Abderrazak El Albani, da Universidade de Poitiers.

Organismos multicelulares, ou colónia de sistemas unicelulares?

Este debate remonta a 2010, quando Abderrazak El Albani e a equipa anunciaram, num artigo publicado na revista Nature, a descoberta de fósseis em Franceville, no Gabão, demonstrando que a existência de eucariotas remontava a 2,1 mil milhões de anos atrás. Desta vez, porém, o cientista diz-se "um pouco mais reservado". "Não porque não acredite, mas porque não há argumentos suficientes para apoiar a hipótese de uma multicelularidade complexa eucariota", explicou o investigador.