Apesar de admitir que esta é também uma vitória para a língua portuguesa, Rui Leão notou que a importância da eleição está nos “territórios que representa, ou seja, o sul global, Brasil, Angola e também a China, através de Macau”.

“Há questões e problemáticas que são específicas do sul global e que têm a ver com a precariedade urbana e com a cidade informal, no fundo com o facto de haver muitos países que não têm capacidade de fazer a gestão do processo de urbanização de uma forma universal”, explicou, apontando que estes são temas que interessam às três regiões que falam português “trazer para o seio da UIA”.

A seleção dos nomes lusófonos significa “uma mudança grande de paradigma” na orientação da instituição, “historicamente com uma origem eurocêntrica”, considerou.

Rui Leão foi eleito no sábado secretário-geral da direção da UIA, presidida pela sueca Regina Gonthier, e composta por nove elementos, incluindo o arquiteto brasileiro Nivaldo Andrade, vice-presidente para a América, e o angolano Vity Nsalambi, vice-presidente para África.

Proposto pela Associação de Arquitetos de Macau, Leão qualificou a eleição dos três elementos de extraordinária, dizendo que “não estava à espera de ter tido tanta componente do CIALP [Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa]”, do qual é presidente, a integrar a direção da UIA.

“No fundo, é o trabalho do CIALP que é de alguma maneira reconhecido como uma estrutura que funciona e isso enche-me realmente de satisfação”, reagiu.

O arquiteto português, que reside em Macau desde 1977, participou no congresso da UIA em Copenhaga, entre 02 e 06 de julho, e na assembleia geral da organização, entre 06 e 09 de julho.

Durante o congresso, vários países, incluindo Lituânia, Letónia e Estónia, “abandonaram a assembleia-geral e anunciaram que iam abandonar a união”, por não se tomar qualquer ação em relação à expulsão da Rússia da instituição, adiantou.

Houve mais países que “manifestaram essa preocupação, mas a maioria do ponto de vista negocial, de se tomar uma posição não especificamente contra a ordem dos arquitetos russa, mas em relação à guerra e ao estado atual e, de facto, foi elaborada uma moção nesse sentido pela assembleia-geral”, indicou o arquiteto.

“Basicamente, alegando os princípios da fundação da organização, que definem que a guerra é contrária e é o oposto em relação à atividade profissional do arquiteto que é a construção”, disse.

A UIA é uma organização não-governamental com sede em Paris, fundada em 28 de junho de 1948, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de unir e representar os arquitetos de todo o mundo.

Em 2021, no congresso da UIA que decorreu no Brasil, a língua portuguesa foi aprovada, por unanimidade, como uma das línguas oficiais, “o que é muito raro”, sublinhou.