Era esperado que Raed Saleh, chefe dos “Capacetes Brancos”, e Khaled Khatib, o socorrista e jovem cineasta sírio que filmou grande parte do trabalho "The White Helmets", um dos nomeados para o prémio de melhor documentário em curta-metragem, estivessem domingo na cerimónia que vai decorrer em Los Angeles.

“Não vou por causa do aumento da pressão de trabalho devido à intensificação dos bombardeamentos do regime nas províncias de Damasco, Deraa e Homs", afirmou, em declarações via telefone à agência noticiosa francesa AFP, Raed Saleh.

"Há muitas coisas para fazer no terreno, a gestão das operações, assegurar que há veículos de emergência", explicou ainda o responsável pela Defesa Civil Síria, conhecida pelos característicos capacetes brancos usados pelos voluntários.

Também hoje, Khaled Khatib, que se encontra na cidade turca de Istambul, escreveu na rede social Twitter: "Tenho um visto para os Estados Unidos mas (…) não vou participar nos Óscares por causa da intensificação do trabalho. A nossa prioridade é ajudar o nosso povo”.

“Devia viajar na terça-feira, mas há muito trabalho por causa dos bombardeamentos. Além disso, estou a trabalhar na produção de um outro filme sobre os ‘Capacetes Brancos’ que deve estar pronto nas próximas duas semanas. É por isso que não vou", disse o próprio, também em declarações via telefone à AFP.

A imprensa internacional tinha divulgado hoje que as autoridades de imigração dos Estados Unidos tinham decidido impedir a entrada deste jovem cineasta sírio.

Segundo correspondência interna da administração do Presidente norte-americano, Donald Trump, a que a agência norte-americana Associated Press (AP) teve acesso, o Departamento de Segurança Interna teria decidiu à última hora impedir Khaled Khatib de viajar para Los Angeles.

A AP indicou que Khaled Khatib, de 21 anos, devia chegar hoje a Los Angeles num voo da Turkish Airlines procedente de Istambul. Contudo, os planos alteraram-se, depois de as autoridades norte-americanas terem reportado a descoberta de “informação depreciativa" sobre o jovem.

Durante semanas, os socorristas sírios correram o risco de não participar na entrega dos prémios norte-americanos de cinema por causa de um decreto presidencial de Trump (de 27 de janeiro) que proibia a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, incluindo a Síria.

Mas, a 09 de fevereiro, um tribunal de recurso norte-americano confirmou o bloqueio à aplicação desta proibição, abrindo o caminho para a emissão de vistos para estes trabalhadores humanitários sírios.

A 18 de fevereiro, Saleh congratulou-se por ele e Khaled Khatib terem conseguido o visto.

O documentário de 40 minutos “Os Capacetes Brancos” (“The White Helmets”) foi realizado pelo britânico Orlando von Einsiedel e encontra-se disponóvel no Netflix.

Desde a sua criação em 2013, este grupo composto por cerca de 3.000 estudantes, professores, agricultores e outros voluntários esteve envolvido no salvamento de mais de 78 mil vidas.

A guerra na Síria, prestes a completar seis anos, já fez mais de 310.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados.