“A situação ainda é muito preocupante e o nosso apoio continua a ser muito importante”, dado que o contexto “é ainda de emergência” disse em entrevista à Lusa Lara Bommers, encarregada de comunicação do ACNUR em Pemba.

O ACNUR é uma das entidades das Nações Unidas que trabalha no terreno com as autoridades moçambicanas para mitigar os problemas humanitários e de emergência.

“Há menos incidentes, menos ataques e não sabemos se foi por causa do Ramadão”, mês do calendário muçulmano (regido pelas fases da lusa) conhecido pelo jejum, mas que é sobretudo um convite à introspeção, disse.

Seja pelo Ramadão, que esta semana termina, ou devido a “uma reestruturação dos grupos armados não estatais”, haver menos ocorrências, não quer dizer que a violência armada tenha desaparecido, considerou a responsável.

“Mesmo assim vemos ataques esporádicos, a cada semana”, descreveu.

“Estive a ver números da semana passada e tivemos, mais ao menos, um movimento de 2.000 pessoas”, ou seja, “o movimento de deslocados não está a parar”, detalhou Lara Bommers.

A população orienta-se pela perceção de segurança e “cada ataque conduz a movimentos de pessoas” que é preciso apoiar, seja com acesso a documentação civil ou a meios de subsistência, em articulação com diversas entidades.

“Por exemplo, os ataques perto de Nairoto também influenciaram o trabalho do ACNUR. Mais ao menos 2.000 famílias tiveram de sair de Nairoto após ataques em fevereiro, o que obviamente tem consequência”, lamentou.

Em Moçambique, o ACNUR tem um orçamento sobretudo centrado na situação no norte do país, mas que está subfinanciado.

“Esse ano, como temos mais necessidade, o nosso orçamento é de 47,4 milhões de dólares (43,25 milhões de euros)”, referiu.

“Estamos em abril, mas nem um quarto está financiado: temos apenas 23%. Isso é uma dificuldade, mas não vai impedir de nos adaptarmos e continuarmos a trabalhar”, sublinhou.

As declarações de Lara Bommers surgem depois de o ACNUR ter feito outro alerta, em março.

Na altura em que se assinalaram dois anos após o ataque à vila dos projetos de gás (que as petrolíferas foram obrigadas a suspender), o ACNUR referiu que “a situação de segurança em Palma melhorou”, mas “a população continua em condições de proteção e de vida extremamente precárias”.

A normalização da vida quotidiana das comunidades é uma das condições que tem sido apontada pela petrolífera francesa TotalEnergies, que lidera o projeto de gás interrompido, para retomar a construção.

De qualquer maneira, alguns subempreiteiros têm referido que o recomeço já tem sido conversado para o mês de junho.

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

Além de um milhão de deslocados, o conflito já provocou cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.