"Foi aberto, em junho passado, um processo de expulsão por situação irregular" contra o suspeito, um marroquino de 25 anos, tratando-se dum "procedimento administrativo (...), cuja execução não é imediata", explicou um porta-voz do ministério numa mensagem à imprensa.

"O detido não tem antecedentes criminais, nem por terrorismo, nem em Espanha, nem noutros países aliados", acrescentou o porta-voz, que garantiu que o suspeito não esteve sob vigilância policial "nem nos últimos dias, nem anteriormente".

De acordo com a mesma fonte, durante a madrugada desta quinta-feira, foi realizada uma busca à casa do suspeito, e "todos os bens apreendidos" estão a ser analisados.

A Audiência Nacional, um tribunal superior responsável por julgar os casos de terrorismo em Espanha, está encarregado das investigações, disse o Ministério Público da Espanha à AFP na quarta-feira.

"Estão a investigar e a analisar os factos, sem que, por ora, seja possível determinar a natureza do ataque", prosseguiu o ministério.

Segundo vários meios de comunicação espanhóis, o suposto agressor morava perto das igrejas onde foram registados os ataques, no centro de Algeciras, região da Andaluzia.

"Pouco depois das 19h [18h em Lisboa] desta tarde, um homem entrou na igreja de San Isidro de Algeciras, onde, armado com uma grande faca, atacou o sacerdote, deixando-o gravemente ferido", relatou o Ministério do Interior num comunicado divulgado ontem.

"Posteriormente, [o agressor] compareceu à igreja de Nossa Senhora de La Palma onde, depois de provocar bastante destruição, atacou o sacristão", acrescentou. "O sacristão conseguiu sair da igreja, mas foi alcançado pelo agressor do lado de fora, que lhe provocou ferimentos mortais", prosseguiu o ministério. "Instantes depois, [o suspeito] foi neutralizado e detido, e encontra-se nas instalações da Polícia Nacional", concluiu.

Segundo uma fonte policial, o agressor usava uma djellaba — peça de roupa tradicional dos árabes da região do Magrebe, no Norte da África — e "gritou algo" no momento do ataque.

As notícias dos meios de comunicação locais, baseadas em relatos de testemunhas oculares, indicam que o agressor estava armado com uma grande faca.

Num vídeo difundido pelas autoridades, é possível ver o agressor, vestido com calças pretas e uma camisola cinzenta com capuz branco e preto, com as mãos algemadas atrás das costas, a caminhar escoltado por dois agentes da polícia.

Uma porta-voz do serviço de urgência disse à AFP que começou a receber muitas chamadas depois das 19h30 de pessoas que viram um homem armado com uma faca atacar uma pessoa em frente a uma igreja, antes de atacar outra pessoa perto da igreja de La Palma.

Um comunicado da ordem religiosa dos salesianos falou de um terceiro ataque à "capela da Europa" e informou que o religioso ferido "encontra-se estável dentro de um quadro de gravidade".

As reações dos responsáveis políticos sucederam-se após o atentado. "Quero dar as minhas mais sinceras condolências aos familiares do sacristão falecido no terrível ataque de Algeciras", escreveu nas redes sociais o presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez.

"Desejo uma pronta recuperação aos feridos. Todo o nosso apoio ao trabalho que estão a realizar as Forças e os Corpos de Segurança do Estado", acrescentou.

Estamos "consternados pelos ataques cometidos esta tarde em Algeciras. Os meus pêsames à família do sacristão falecido e os meus desejos de pronta recuperação aos feridos", escreveu no Twitter o líder da oposição, Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular (PP).

Já o presidente do governo regional da Andaluzia, Juan Manuel Moreno, descreveu o ataque como "terrível e devastador". "Assassinaram um sacristão e feriram, pelo menos, um sacerdote num ataque causado em Algeciras", anunciou, antes de pedir que se evitem conclusões precipitadas e reações intempestivas. "Prudência, os factos estão a ser investigados", ressalvou.

Por meio do secretário-geral da Conferência Episcopal, Francisco César García Magán, a Igreja Católica da Espanha lamentou também o incidente.

"Com dor, recebi a notícia dos acontecimentos em Algeciras. Neste momento de tristeza, de sofrimento, juntamo-nos às dores das famílias das vítimas e da diocese gaditana [relativo a Cádis] e pedimos ao Deus da vida e da paz a pronta recuperação dos feridos", explicou García Magán.

Os últimos atentados jihadistas na Espanha remontam a agosto de 2017 e ocorreram em Barcelona e no balneário de Cambrils, ambos na Catalunha. Reivindicados pelo grupo Estado Islâmico, deixaram 16 mortos e 140 feridos.

Os três sobreviventes da célula terrorista foram condenados a oito, 46 e 53 anos de prisão.