Esta rede de grutas, particularmente difíceis de serem alcançadas ou de serem penetradas, foi alvo de uma dura batalha e de intensos bombardeamentos em dezembro de 2001. À data, Bin Laden conseguiu alcançar as zonas tribais próximas da fronteira, acabando por se refugiar no Paquistão, mas acabou por ser morto numa operação das forças especiais norte-americanas em 2011.
Esta tomada, altamente simbólica para o Estado Islâmico (EI), aconteceu na manhã de quarta-feira, segundo fontes locais ouvidas pela AFP.
"A região de Tora Bora, no distrito de Pachir Agam, acabou nas mãos dos combatentes do Daesh (acrónimo em árabe do EI)", confirmou esta quinta-feira à AFP o porta-voz do governador da província de Nangarhar, Ataulah Jogyani, confirmando assim os relatos de moradores locais.
"As forças de segurança, o Exército, a polícia local e alguns habitantes enfurecidos lançaram uma operação para retomar Tora Bora na noite passada, ainda que não possam realizar uma operação terrestre naquela zona montanhosa, cheia de grutas. Até porque ainda existem alguns combatentes talibãs por ali", assinalou.
Um porta-voz dos talibãs, Zabihulah Mujahid, confirmou à AFP que a região era agora controlada pelo Daesh. "Tentámos resistir, mas fracassámos. E sete de nossos 'mujahedines' caíram como mártires durante os combates."
No entanto, admite que o confronto continua. "Juntamente com os moradores, planeamos uma operação para reconquistar Tora Bora", disse.
'Sem controlo do governo'
Segundo a autoridade tribal da região, Juma Jan, "os talibãs fugiram quando os combatentes do Daesh lançaram a sua ofensiva. Deixaram-nos sozinhos, com as mulheres e crianças", queixou-se à AFP.
A província de Nangarhar, na fronteira com o Paquistão, tem servido como uma espécie de refúgio para os insurgentes talibãs, mas também do próprio Estado Islâmico. Estes últimos, porém, fizeram daquela área a "sua base" para entrar no Afeganistão.
Tora Bora fica a dezenas de quilómetros da sua base principal no leste afegão, no distrito de Achin, onde as forças norte-americanas presentes no Afeganistão garantem persegui-los sem trégua desde o verão de 2016.
"Os combatentes do Daesh chegaram em grande número na manhã de ontem pela montanha, para começarem a conquistar Tora Bora", indicou o morador da região Gul Rafiq. "Os talibãs não ofereceram resistência", assinalou.
Outro residente, Malek Qasim, lamentou: "Tora Bora ameaçava cair a qualquer momento. Lamentavelmente, nesta região, só são vislumbrados membros dos talibãs ou do Daesh. Não há qualquer tipo de controlo por parte do Governo".
Durante o dia de ontem, vários membros do parlamento interpelaram as autoridades, exigindo fortes medidas no local para contrariar este avanço do Estado Islâmico.
"O Daesh transferiu o centro das suas atividades para Tora Bora", assinalou o deputado de Cabul Allah Gul Mujahid. "Estão centenas de combatentes nos distritos de Khogyani e Azra, mas devem recrutar ainda mais", esclareceu.
Em abril, os Estados Unidos utilizaram a sua bomba não-nuclear mais potente, apelidada como “a mãe de todas as bombas”, no Afeganistão contra o grupo extremista Estado Islâmico. A operação fez, segundo o balanço oficial, 96 mortos entre membros do EI.
As tropas norte-americanas atuam no Afeganistão juntamente com a NATO e estão autorizadas a realizar operações contra os jihadistas.
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