Santo António de Lisboa ou de Pádua?

Sendo um dos santos mais populares da Igreja Católica, muitas são as disputas sobre quem deve António apadrinhar, sendo que Santo António nasceu e viveu em Lisboa, viveu e morreu em Pádua. Para acabar com as discussões, o Papa Leão XIII (1878 – 1903) terá dito: “É o santo de todo o mundo”.

Santo António é o Padroeiro de Lisboa?

Segundo o site da Sé de Lisboa, Santo António é, na realidade, o padroeiro da cidade de Lisboa, e São Vicente, padroeiro principal do Patriarcado.

Santo António é também padroeiro secundário de Portugal, sendo Nossa Senhora da Conceição a padroeira principal.

Quando começou a tradição de celebrar as festividades do Santo António em Lisboa?

Segundo o Museu de Lisboa, as festas dedicadas ao Santo António realizavam-se duas vezes por ano: 15 de fevereiro, dia da transladação do seu corpo para a catedral de Pádua, e 13 de junho, dia da sua morte. Estas celebrações incluíam a Trezena de Santo António (que se iniciava 13 dias antes da sua festa), Missa Pontifical na Sé (na véspera) e a procissão do Convento de São Francisco para a Igreja de Santo António, onde se realizava o Te Deum.

O museu sublinha ainda que era costume os membros da família real visitarem a igreja na véspera do dia de festa e presentearem o povo com várias oferendas, nomeadamente bolos.

No dia da festa, as celebrações terminavam com fogo-de-artifício, oferecido pela Câmara Municipal, e tourada no Rossio ou no Terreiro do Paço, ao mesmo tempo que por toda a cidade se fazia os festejos que coincidiam com o solstício de verão. Estas festas incluíam os conhecidos arraiais, ainda hoje celebrados, apesar de hoje em dia serem bastante diferentes.

Antigamente, as festas incluíam fogueiras, fazer "Sortes de Santo António" (uma tradição popular) e cortejos de rapazes e raparigas às fontes e chafarizes da cidade, que terminavam em grandes noites de festa. A mais popular era a Festa da Praça da Figueira, que era organizada pelas vendedeiras do antigo mercado.

Surge também a tradição dos Tronos de Santo António, pequenos altares que costumavam adornar as janelas e soleiras das portas de Lisboa, e que hoje em dia fazem parte de um concurso do Museu de Lisboa, que pode ver num roteiro digital.

Os primeiros Tronos de Santo António surgiram no século XVIII como forma de pedir esmolas para a reconstrução da Igreja de Santo António, parcialmente destruída durante o Terramoto. A sua construção tornou-se rapidamente popular, principalmente junto das crianças. Estas costumavam criar pequenos tronos, que colocavam à porta de casa. Durante o dia, costumavam andar pelas ruas a pedir “mil reisinhos” para o santo, um costume que acabaria por se tornar no “tostão ao Santo António”.

Quando surgiram as Marchas?

A 12 de junho de 1932, o “Diário de Lisboa” revela em primeira página as surpresas da festa mais popular da capital. De acordo com o jornal, na altura, a novidade desse ano é “o espectáculo das Marchas Populares”, no Parque Mayer, com os “ranchos” do Bairro Alto, Campo de Ourique e Alto do Pina.

O objetivo era promover o próprio Parque Mayer. Dois anos depois, foram integradas no programa das Festas de Lisboa, organizadas pela autarquia, acabando por se tornar, com o passar dos anos, num dos pontos altos dos festejos da capital.

Mas a tradição, como a conhecemos hoje, foi instituída graças ao cineasta José Leitão de Barros, homem próximo de António Ferro, diretor do Secretariado da Propaganda Nacional e responsável das atividades culturais do antigo regime, que nesse ano convidou várias coletividades a apresentarem os seus espetáculos.

Dois anos depois, o desfile foi finalmente para a rua já organizado pela Câmara de Lisboa, onde 300 mil pessoas viram passar 12 bairros e 800 marchantes, desde o Terreiro do Paço até ao Parque Eduardo VII. Nesta altura, ainda longe da ribalta, foi também nesse ano que Amália se estreou como solista.

Mais tarde, e tendo em conta que as marchas tinha sido uma criação do Estado Novo, nos anos 70 quase não houve marchas, sendo que alguns atribuíam os festejos ao regime salazarista.

O ano de 1980 marcou o regresso das marchas à Avenida da Liberdade, com dez marchas e sem concurso. Os prémios e o júri voltaram em 1981. Até hoje.

Casamentos de Santo António, porquê?

Segundo o site da Sé de Lisboa, Santo António era conhecido como um excelente conciliador de casais, tendo ficado popularmente conhecido como um "Santo casamenteiro". Esta fama esteve na origem da criação dos Casamentos de Santo António, uma iniciativa que aconteceu pela primeira vez a 12 de junho de 1958 , patrocinada à época pelo Diário Popular, com o objetivo de possibilitar o matrimónio a casais com dificuldades financeiras, e que se transformou numa tradição anual, fazendo já parte da identidade cultural da cidade.

Após o 25 de Abril de 1974, o evento, que é promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, esteve 23 anos sem se realizar, tendo sido retomado em 1997. As cerimónias civis decorrem nos Paços do Concelho e as religiosas na Sé de Lisboa.

Este ano vão unir-se 16 casais no dia 12 de junho, uma cerimónia que, à semelhança de outros anos, será dividida entre a Sé de Lisboa e o Salão Nobre dos Paços do Concelho, que é também referência incontornável na tradição popular de Lisboa.

De acordo com a Câmara de Lisboa, em 2023, os participantes deverão rondar o milhar de pessoas (entre noivos, padrinhos, convidados e organização). A festa atual só é possível graças ao patrocínio de dezenas de parceiros que apadrinham esta iniciativa. Este apoio garante todos os ingredientes necessários à sua concretização, desde os vestidos e fatos das noivas e dos noivos, passando pelos penteados e maquilhagem, alianças, despedidas de solteiro, copo de água e lua de mel.

Atualmente, os candidatos aos Casamentos de Santo António devem obedecer a um conjunto de pré-requisitos, de acordo com as condições gerais de participação, designadamente a apresentação de comprovativo de residência permanente no município de Lisboa de um dos elementos do casal.

Desde que foram retomados os casamentos em 1997, realizaram-se 384 casamentos (264 religiosos e 120 civis).

De onde vem a tradição dos manjericos e das sardinhas?

Esta talvez seja a tradição mais complicada de explicar, não se atribuindo relação entre Santo António e estes dois símbolos das Festas de Lisboa, sendo que estes também são os símbolos de outras festas populares do mês de junho, nomeadamente São João e São Pedro.

Sabe-se porém que a sardinha é um peixe que nada na costa portuguesa e tem a a partir da primavera a sua época alta. Esta estação do ano também está historicamente associada ao amor, e por isso era costume os rapazes comprarem um manjerico num pequeno vaso, para oferecer à sua namorada. O manjerico cresce principalmente nesta altura do ano e por isso talvez tenha ficado popular.

Além de Lisboa onde se celebra também o Santo António?

Além da cidade onde o Santo nasceu, o feriado é assinalado em mais 13 concelhos: Aljustrel, Alvaiázere, Amares, Cascais, Estarreja, Ferreira do Zêzere, Proença-a-Nova, Reguengos de Monsaraz, Vale de Cambra, Vila Nova da Barquinha, Vila Nova de Famalicão, Vila Real e Vila Verde.