O exército russo - que raramente divulga as suas baixas - ainda não tinha informado sobre tantas perdas num só ataque desde o início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2021.

Segundo o Ministério da Defesa russo, este bombardeamento, "com quatro mísseis" HIMARS, entregues pelos EUA à Ucrânia, atingiu "um centro de destacamento temporário" do Exército.

Já o exército ucraniano adianta que o ataque em Makiivka aconteceu a 31 de dezembro, contra até dez veículos e um número indeterminado de militares.

O anúncio dessas perdas militares provocou críticas no seio do comando militar russo.

Segundo o The New York Times, o ex-comandante paramilitar separatista russo Igor Strelkov escreveu no Telegram que o ataque fez "muitas centenas" de mortos e feridos, e que muitos soldados se encontravam "debaixo de escombros".

O canal televisivo russo Tsagrad estima a contabilidade das vítimas em “centenas de pessoas” e o canal pró-russo Operational Reports, na rede social Telegram, indica 500 mortes.

As forças ucranianas avançam com um outro número: cerca de 400 militares russos mortos no ataque.

Estes números, de parte a parte, são impossíveis de confirmar de forma independente nesta fase.

As críticas internas não tardaram a levantar-se, com observadores de guerra russos a acusar os seus militares de incompetência, escreve o The New York Times.

Segundo bloggers russos favoráveis à guerra na Ucrânia e alguns  funcionários governamentais, estas perdas devem-se a erros repetidos cometidos pelos próprios russos, com elevados custos militares, como aquartelar tropas dentro do alcance da artilharia ucraniana, colocar militares no mesmo local em que guardam artilharia ou permitir aos soldados que usem telemóveis, cujo sinal de rede depois é usado pelas forças ucranianas para determinar os alvos, lista o jornal norte-americano.

"O que aconteceu em Makiivka é terrível", escreveu Archangel Spetznaz Z, um blogger russo no Telegram, com mais de 700 mil seguidores, citado pela Reuters. "Quem teve a ideia de colocar pessoal militar em grande número num único edifício, quando até um tolo percebe que se forem atingidos com artilharia haverá um grande número de baixas?", questionou.

Sergei Mironov, líder de um partido pró-Kremlin no parlamento, pediu mesmo que todos os funcionários responsáveis por estes erros sejam julgados — quer usem patentes militares ou não.

Grigory Karasin, membro do Senado russo, pediu vingança, mas também "uma análise interna exigente".

Andrey Medvedev, vice-presidente da Duma na cidade de Moscovo defendeu que as autoridades têm de valorizar as vidas russas.

O ataque foi "um golpe maciço", assumiu Daniil Bezsonov, porta-voz do do governo russo instalado em Donetsk. "O inimigo infligiu-nos uma derrotas mais sérias desta guerra, não por causa da sua frieza e talento, mas por causa dos nossos erros", escreveu no Telegram.

Tendo sofrido derrotas no campo de batalha na segunda metade de 2022, a Rússia recorreu a ataques aéreos massivos contra a Ucrânia, tendo a passagem do ano sido marcada por uma forte ofensiva russa contra o país, que atingiu mais uma vez infraestruturas críticas.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.884 civis mortos e 10.947 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.