"Faz todo o sentido que não tenhamos aquela situação, que seria quase cómica, de termos um ganho de alta velocidade no lado da ferrovia e depois esse ganho ser engolido pela travessia rodoviária que os cidadãos tinham que fazer para chegar a Campanhã", diz o presidente da Câmara de Gaia (distrito do Porto), Eduardo Vítor Rodrigues, à Lusa.

O autarca falava sobre a instalação de uma estação intermodal em Santo Ovídio, em Gaia, com ligações às linhas Amarela e Rubi do Metro do Porto, aos autocarros, e um parque de estacionamento "de grande capacidade", tudo com arranjo urbanístico do arquiteto e urbanista catalão Joan Busquets.

O projeto de alta velocidade Lisboa-Porto, com um custo estimado de cerca de 4,5 mil milhões de euros, prevê uma ligação entre as duas cidades numa hora e 15 minutos, com paragem possível em Leiria, Coimbra, Aveiro e Gaia.

Paralelamente, está também a desenvolver-se a ligação Porto-Vigo, dependente da articulação com Espanha, com nova ligação ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e troço Braga-Valença (distrito de Viana do Castelo) até 2030.

A estação de Gaia evita, por exemplo, que passageiros vindos de autocarro, comboio ou carro do sul da Área Metropolitana do Porto (AMP), com mais de 600 mil habitantes, tenham de 'entupir' a estação de Campanhã, no Porto.

Eduardo Vítor Rodrigues justifica que a colocação da estação em Gaia faz sentido porque quando o comboio se aproxima do Porto "já está a chegar em baixa velocidade para entrar na ponte, e quando está a sair do Porto, ainda está a sair em baixa velocidade para atravessar a ponte".

A nova travessia em causa, rodoferroviária, substituirá a anteriormente projetada ponte rodoviária D. António Francisco dos Santos, que seria custeada pelos municípios do Porto e de Gaia.

Mas, se a alta velocidade uniu as margens norte e sul do Douro nos seus dois concelhos mais populosos, mais a sul, no distrito de Aveiro, várias autarquias já manifestaram objeções ao projeto que, além de servir Valença, Braga, aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto, Gaia, Aveiro, Coimbra, Leiria e Lisboa, permitirá conexões a toda a rede ferroviária nacional e diminuições de tempos de viagem por todo o país.

O presidente da Câmara de Estarreja, Diamantino Sabina (PSD/CDS), disse à Lusa ainda ter esperança "de que a asneira não saia do papel”, considerando que o projeto “é claramente uma má solução" e classificando-o como “uma Linha do Norte II”.

Em junho, Estarreja defendeu a "alternativa zero" à construção da linha de alta velocidade, argumentando que o concelho é já atravessado pela Linha do Norte e por duas autoestradas (A1 e A29), além de um gasoduto, e ficará ainda mais “retalhado”.

Diamantino Sabina criticou ainda o financiamento de cerca de 750 milhões de euros que poderá ser captado junto da União Europeia, ao abrigo da Connecting Europe Facility, para redes transeuropeias de transportes.

“Estamos a discutir 700 milhões de euros, quando na verdade deveríamos estar a discutir mais de cinco mil milhões e de onde virão”, afirma o autarca.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, disse na quinta-feira ao Expresso que não será "obstáculo" ao lançamento do concurso público do primeiro troço da alta velocidade, Porto-Soure, apesar de ainda aguardar respostas por parte do primeiro-ministro, António Costa, sobre o tema.

Além de Estarreja, outras autarquias do distrito de Aveiro já manifestaram preocupações, incluindo a junta de freguesia de Anta e Guetim, em Espinho, cujo presidente a Lusa tentou contactar hoje, sem sucesso até ao momento.

Em junho, o presidente Nuno Almeida considerou a solução “desproporcional” e “inaceitável” para um território "já atravessado por duas autoestradas – a A29 e a A41 – que lhe trouxeram uma diminuição da área útil nas últimas décadas".

O presidente da Câmara da Feira, Emídio Sousa, também referiu que as propostas de traçado não tiveram em conta projetos que representam “100 milhões de euros e 1.200 postos de trabalho” em investimentos já previstos para as zonas a expropriar, nomeadamente nas áreas de expansão do parque empresarial LusoPark.

Em agosto, a Agência Portuguesa do Ambiente deu parecer favorável condicionado ao traçado Porto-Aveiro da futura linha de alta velocidade ferroviária até Lisboa, e em novembro, foi a vez do troço Oiã-Soure.