Ao quarto dia de greve, que dura desde segunda-feira, Bruno Reis, de 35 anos, organizador desta manifestação - que não foi convocada por qualquer dos sindicatos -, afirmou que, apesar das "ameaças que os enfermeiros vão sofrendo", tem havido uma forte adesão, com os hospitais a assegurar os serviços mínimos.

O especialista em saúde materna, que trabalha naquele hospital há 14 anos, criticou também o primeiro-ministro, António Costa, pelas declarações proferidas na quarta-feira, nas quais disse estar esperançoso que o governo chegasse a acordo com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), visto que esta força sindical não aderiu à greve.

"É preocupante, porque já transmitimos esta mensagem muitas vezes, que o SEP não tem uma proposta que seja reflexo da vontade dos enfermeiros, e continuar reuniões com um sindicato que não apoia a greve - e que não tem tido uma postura convergente com os enfermeiros - só pode dar asneira", apontou, aproveitando para aconselhar ao Governo uma reunião com as forças sindicais que convocaram a greve, que "era o mínimo aceitável".

Relativamente às declarações prestadas por Alberto Lourenço, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, que também na quarta-feira disse estar "convencido que a greve teve uma fraca adesão", o organizador do protesto aconselhou-o a ir aos hospitais de norte a sul e confirmar as taxas de adesão, porque sabe "de fonte segura que mais de 90% dos enfermeiros aderiram à greve".

De cartazes levantados com palavras de ordem e críticas ao ministro da Saúde, Adalberto Fernandes, no seio dos enfermeiros reunidos à porta da unidade de saúde, José Carvalho, de 59 anos, que exerce a profissão há 31, explicou que marcou ali presença por "solidariedade" com os seus colegas, que a profissão está "numa estagnação total a nível salarial e de carreira", visto que os recém-licenciados ganham quase tanto como ele, que ainda faz "noites, fins de semana e feriados, e nada disso é reconhecido ou valorizado".

"Não há distinção, não há uma valorização ou reconhecimento pela enfermagem. Recebo 1.400 euros desde 2003. Se a greve se prolongar eu vou continuar por mais dias. Não vemos evolução e queremos vê-la", concluiu.

A ‘t-shirt' preta com a palavra "Basta!", que simboliza o “luto" e a flor branca na mão que simboliza a passividade do protesto, eram as marcas distintas de Catarina Rebelo, especialista em reabilitação há 17 anos, que recebe o mesmo desde que entrou na profissão.

"Ganho 1.200 euros, os recém-licenciados ganham o mesmo que eu. Sendo especialista, com duas pós-graduações, um mestrado, uma licenciatura e ganho o mesmo do que alguém que entre hoje para a atividade. Trabalho 35 horas por semana, e em média fazemos mais cinco horas extra por semana, que é mais uma das nossas reivindicações - acabar com as horas extra", indicou.

Para sexta-feira está prevista uma grande manifestação de enfermeiros em Lisboa, naquele que será o quinto dia de greve do setor.

A greve, marcada pelo Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem (SIPE) e pelo Sindicato dos Enfermeiros, começou às 00:00 de segunda-feira e decorre até às 24:00 de sexta-feira.

A paralisação foi marcada como forma de protesto contra a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a proposta de atualização gradual dos salários e de integração da categoria de especialista na carreira.

A Secretaria de Estado do Emprego considerou irregular a marcação da greve, alegando que o pré-aviso não cumpriu os dez dias úteis que determina a lei.