“O que Portugal fez foi espantoso, foi incrível”, descreveu em lágrimas, em declarações em inglês à agência Lusa, Tamara da Silva, uma luso-iraelita, que chegou esta manhã ao aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, com o marido português e três filhos, o mais velho com 7 anos, outro com 5 e um terceiro com 1 ano e meio.

“Não poderíamos esperar melhor, fomos recolhidos no aeroporto [em Telavive], foi tudo muito bem organizado, não tivemos que esperar muito, embarcámos no avião militar (C-130 da Força Aérea Portuguesa), foi uma hora de voo até Chipre, aí fomos recebidos pelos serviços de proteção civil, passámos a noite, e sentimo-nos mesmo em segurança”, disse.

“Esta manhã partimos de Larnaca [na costa sudeste na ilha de Chipre] num avião grande [da TAP, fretado pelo Governo] e foi tudo muito bem organizado”, insistiu, acrescentado um “muito obrigado, Portugal!”.

“Não podíamos imaginar ter que ficar ali mais um dia”, afirmou.

Micael Silva e Ana Rita Cavaco, um casal de investigadores portugueses a poucos dias de serem pais, estavam há mais de um ano a trabalhar no Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot, a cerca de 30 quilómetros a sul de Telavive, e também estiveram sempre em contacto com o gabinete de emergência consular, na capital israelita.

“Nós sabíamos que esta missão de repatriamento estava a acontecer, estivemos sempre em contacto com o gabinete de emergência consular, e o facto de estarmos muito próximos do final da gravidez acelerou a decisão de vir”, disse Ana Rita Cavaco.

“As coisas poderiam escalar e depois seria muito difícil vir”, dizem os dois, numa frase começada por um e concluída pelo outro.

Micael Silva e Ana Rita Cavaco são de Lisboa e Tamara Silva tem família na capital portuguesa, onde irá ficar acomodada com o marido e filhos, mas estes não são os casos de todos os luso-israelitas que integraram o grupo de 152 pessoas com passaporte português que desembarcaram esta manhã em Lisboa.

Jonathan Ianai, casado igualmente com uma luso-iraelita, chegou com a mulher e também três filhos, mas “ainda não” sabia onde irá ficar.

“Não sei o que esperar, tentámos dizer às crianças que isto era uma espécie de aventura, caso contrário poderia causar-lhes perturbações mentais”, disse à Lusa.

Interrogado sobre se a sua família tinha recebido alguma indicação das autoridades portuguesas sobre como seriam acomodados, confessou que “ainda não”, confiando que irão “encontrar um lugar para ficar”.

Ianai não esclareceu também se a família “tem condições para ficar muito tempo” na situação em que chega a Portugal, mas fez questão de sublinhar que têm “esperança que isto [a guerra] acabe depressa”.

“As Forças de Defesa Israelitas (IDF, na sigla em inglês) estão a trabalhar intensamente para encontrar todos dos responsáveis pelo que aconteceu, mas é uma tarefa difícil, porque foram milhares de pessoas, milhares de terroristas, que entraram em Israel e ninguém estava à espera”, afirmou.

“Vimos quanto é que os norte-americanos investiram em apanhar Bin Laden, penso que vai acontecer o mesmo: Israel não vai parar enquanto não encontrar todos os homens responsáveis por estas ações e levá-los perante a justiça”, acrescentou Ianai.

O avião que transportou esta noite um total de 166 pessoas do Chipre para Lisboa, fugidas ao conflito entre Israel e o movimento islâmico Hamas, aterrou hoje às 10:43 no aeroporto de Figo Maduro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, que se encontrava no local a recebê-los, disse aos jornalistas que, além de 152 portugueses e luso-israelitas a bordo, chegaram ainda 14 cidadãos de outras nacionalidades como espanhóis (nove), irlandeses, búlgaros e lituanos, entre outros.

“Estamos satisfeitos com o facto de ter sido possível fazer esta operação em circunstâncias muito difíceis”, afirmou o ministro, que lamentou “o falecimento de uma luso-israelita”, manifestando as “profundas condolências” à família”, e revelou que há “mais quatro desaparecidos”.

Questionado sobre as condições para receber os cidadãos repatriados, o ministro referiu que “a maioria são turistas que lá estavam e regressam às suas casas”.

Segundo Gomes Cravinho, há “ainda mais cerca de 2.000 portugueses” que estão nas listas consulares, “contudo esses, por enquanto, não manifestaram vontade de regressar a Portugal”.