Jorge Sampaio falava na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, na sessão de encerramento da apresentação do segundo volume da sua biografia. Um volume dedicado sobretudo ao período em que exerceu as funções de Presidente da República (1996/2006), da autoria do jornalista José Pedro Castanheira.

Perante uma plateia cheia e tendo a escutá-lo o primeiro-ministro, António Costa, ou personalidades como o fundador do PPD/PSD Francisco Pinto Balsemão e o dirigente histórico comunista Domingos Abrantes, Jorge Sampaio definiu-se como "um homem inquieto".

"Quando olho para trás, para a minha longa vida pública, o que emerge não são feitos passados, mas a preocupação com o futuro. Sempre me disseram que sou um homem preocupado. Assumo que sou um homem inquieto", declarou o antigo líder socialista no seu discurso.

Aliás, segundo o próprio Sampaio, a pintora Paula Rego, no retrato oficial que lhe fez após sair do Palácio de Belém, "percebeu isso melhor do que ninguém".

"O futuro do país preocupa-me genuinamente. No meio da desordem mundial em que vivemos é mais do que nunca necessário reforçar o Estado, tornando-o mais forte e mais eficaz na defesa dos cidadãos e do interesse nacional. Para isso, temos de ter a coragem de prosseguir no caminho das reformas e da melhoria dos serviços públicos", defendeu.

Ou seja, segundo Sampaio, é preciso "restaurar o orgulho de servir o Estado e contribuir para o bem público", advogando, depois "uma imperiosa necessidade de defender de forma intransigente a separação de poderes, incluindo o quatro poder" [o da comunicação social].

O antigo Presidente da República defendeu ainda a exigência de rigor no financiamento dos partidos e no exercício de cargos políticos, assim como a necessidade de uma reflexão sobre "os contornos da vida democrática".

"Precisamos de um sobressalto cívico. Os cidadãos têm de ser mobilizados", acrescentou Jorge Sampaio, no final de um de uma sessão que durou duas horas e meia.