Trata-se de um ‘kit’ de estabilizadores colocados nos tratores estreitos para evitar o capotamento, que resultou de um projeto da UTAD, localizada em Vila Real, em parceria com a Jopauto, empresa com sede em São João da Pesqueira (Viseu), prevenir os acidentes com estas viaturas, os quais são considerados uma das principais causas de morte no trabalho agrícola a nível nacional.

“Sempre me fez confusão a quantidade de acidentes que há”, afirmou hoje Fernando Santos, investigador da UTAD que durante 40 anos se dedicou à mecanização agrícola e agricultura de precisão.

Acidentes que muitas vezes ocorrem em zonas de montanha e de encostas acentuadas, como é o caso da Região Demarcada do Douro onde se recorre a tratores estreitos para se conseguir trabalhar nas vinhas.

“Este ‘kit’ salvará vidas com certeza”, sintetizou Daniel Lopes, da Jopauto, empresa que comercializa máquinas e equipamentos agrícolas e industriais.

O responsável sustentou que se trata de “um dispositivo de segurança”.

“É isso que mais nos preocupa, porque há muitas mortes em acidentes de tratores por ano e, no Douro, somos uma região propícia a capotamentos (…) A nossa preocupação é mitigar este tipo de acidentes”, justificou.

No âmbito do projeto, financiado através da Agência Nacional de Inovação (ANI), os investigadores desenvolveram um dispositivo, que é colocado nas laterais do trator e é acionado automaticamente através de um sensor de inclinação, sensor esse que ativa o sistema hidráulico a partir de 20% de pendente lateral.

“Detetamos que essas inclinações eram o nível de pendente lateral a partir do qual o trator poderia correr o risco de capotar”, explicou Daniel Lopes.

O mecanismo, especificou, pode ser acionado de forma manual ou automática.

Explicou que o sistema automático funciona com um sensor e que, quando o trator atinge 20% de inclinação lateral, o macaco hidráulico abre e o dispositivo é lançado a 45 graus, permitindo que o trator fique estável e evitando o capotamento.

O protótipo já foi testado em patamares e, neste momento, está a ser também testado com o uso de alfaias agrícolas acopladas na parte frontal do trator.

André Magalhães é um dos operadores de máquinas agrícolas que está a testar o novo dispositivo e disse que vê com bons olhos tudo o que reforce a segurança na utilização dos tratores.

“Isto dá bastante estabilidade ao trator nas inclinações laterais, principalmente. São máquinas agrícolas e são zonas de montanha em que o perigo para o operador é constante. O perigo está sempre à espreita e o erro é fatal”, salientou, referindo já ter capotado um trator e que se sentiu seguro com o novo sistema.

Daniel Lopes reforçou que se trata “de um estabilizador anticapotamento, não um auxiliar de locomoção”.

“Ou seja, este dispositivo foi fabricado para que o trator não tombe, não é uma terceira roda, como as bicicletas têm rodinhas, não é isso que se quer aqui. Quer-se efetivar a segurança do operador e quando ele (trator) estiver a capotar, o dispositivo abre, o operador usa o dispositivo como suporte até endireitar o trator e ele recolhe e, a partir daí, continua a trabalhar”, sustentou.

Para já ainda se trata de um protótipo, mas, segundo o responsável, o dispositivo poderá vir a ser comercializado por um preço a rondar entre os 7.500 a 10.000 euros.

“Pareceu-nos que seria uma solução razoável. É óbvio que isto não vai pura e simplesmente evitar todos os acidentes, mas se evitar uma parte razoável já nos sentimos satisfeitos”, salientou o investigador da UTAD Fernando Santos.