A Grécia concretiza hoje a saída do seu terceiro programa de assistência, numa data histórica para o país e para a Zona Euro, que vira a página sobre oito anos de resgates. Para assinalar a data, Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, publicou um vídeo no Twitter e as críticas não tardaram a surgir.

No vídeo, Mário Centeno afirma que foram cometidos erros, mas que se aprendeu com eles, fazendo ainda um balanço do que diz ser a situação atual da Grécia. "Hoje, o crescimento económico melhorou, estão a ser criados novos postos de trabalho, regista-se um excedente orçamental e comercial e a economia foi reformada e modernizada", afirma, admitindo que "estes benefícios ainda não são sentidos em todos os quadrantes da população", mas frisando que, "gradualmente, serão".

A primeira reação veio de Yanis Varoufakis, o antigo Ministro das Finanças grego, que comparou o vídeo à "propaganda norte-coreana".

Por cá, João Galamba, deputado e antigo porta-voz do PS, também criticou Centeno no Twitter. “Um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias", lê-se.

Em declarações ao Público, o deputado socialista referiu que "não gostou" de ver Mário Centeno a fazer aquele papel. "Acho que é um vídeo de propaganda, lamentável que ignora a realidade do que aconteceu. Varoufakis disse que parecia um vídeo coreano. Não anda longe da verdade".

"Se queremos combater o populismo e a extrema-direita, este tipo de vídeos são o oposto do que a Europa precisa", acrescentou.

Miguel Morgado, deputado do PSD, criticou também o sucedido. "As duas faces deste homem: passou 3 anos a apoucar a saída limpa portuguesa de 2014 — conseguida contra todos os esforços contrários do PS — e agora desfaz-se em palavras doces para um país que sai devorado por problemas após 8 anos de bailout [injeção de liquidez dada a uma entidade falida ou próxima da falência]", lê-se.

No Bloco de Esquerda, José Gusmão, dirigente do partido, refere que este é um "vídeo ridículo para quem tem alguma noção do que aconteceu na Grécia, insultuoso para os gregos e esclarecedor para os portugueses".

Joana Mortágua, deputada bloquista, referiu que "definitivamente não somos todos Mário Centeno", demonstrando assim o seu desagrado com o conteúdo publicado pelo presidente do Eurogrupo.

Grécia e Zona Euro celebram fim de oito anos de resgates

A Grécia, o país europeu mais atingido pela crise económica e financeira, foi o primeiro e último a pedir assistência financeira — e o único “reincidente” –, e a conclusão do seu terceiro programa assinala também o fim do ciclo de resgates a países do euro iniciado em 2010, e que abrangeu também Portugal (2011-2014), Irlanda, Espanha e Chipre.

No sábado, o diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), Klaus Regling, congratulou-se com a recuperação da autonomia da Grécia, na saída do último programa de resgate, apontando que o país será “uma história de êxito”.

“Há algum tempo nada faria crer que Portugal, Espanha, Irlanda e Chipre seriam histórias de êxito. Refiro-me sempre a estes países como as nossas quatro histórias de sucesso. Agora poderei incluir a Grécia neste grupo”, seguindo sempre as reformas acordadas, disse, na altura, Klaus Regling ao diário grego News247.

Klaus Regling lembrou ainda a importância de a Grécia continuar as reformas realizadas e concretizar os compromissos firmados com as instituições credoras.

Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, utilizou a rede social Twitter para reagir a esta data, congratulando "a Grécia e o seu povo por acabar o programa de assistência financeira", algo feito com "grandes esforços e solidariedade europeia".

No início de julho, o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, disse, perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, poucos dias após o fórum de ministros das Finanças da zona euro ter acordado a conclusão do terceiro resgate à Grécia, lançado em agosto de 2015, que “o dia 20 de agosto de 2018 é para marcar no calendário e celebrar”.