Chegou a ser apontado como um dos sucessores de Pedro Passos Coelho, mas cedo anunciou que não seria candidato à liderança do PSD e, mais tarde, juntou-se ao leque de nomes que apoiaram Pedro Santana Lopes. Agora, pouco mais de um mês depois da vitória de Rui Rio nas eleições à presidência do PSD, anuncia a sua saída do Parlamento no dia 5 de abril.

Num dos discursos mais aguardados do Congresso, Montenegro afirmou que irá continuar a lutar ao lado do partido e assumiu uma futura disputa à liderança do PSD no futuro. “Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier, sem receio de nada e sem estar por conta de ninguém, sou totalmente livre”, afirmou perante o 37.º Congresso do PSD, na intervenção mais aplaudida da tarde.

“Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém”, afirmou.

O antigo líder parlamentar pediu ao novo líder do partido que "concentre a sua energia e a energia da sua equipa no combate aos nossos adversários externos" e que "não transforme o partido numa agremiação dos amigos de Rui Rio", naquela que foi uma das passagens mais aplaudidas e com gritos de “PSD, PSD”.

Montenegro fez questão de sublinhar que “esta é a hora de Rui Rio” e prometeu “ajudá-lo” no seu mandato. “Eu quero dizer-lhe com toda a franqueza, eu desejo toda a sorte, que faça um bom trabalho, quero para si o que quereria para mim”, disse.

No entanto, Montenegro deixou vários recados internos ao novo presidente eleito e à sua equipa, pedindo que se terminem “as guerras artificiais e os adversários internos virtuais”.

“Eu não sou, não quero e não vou ser oposição interna a Rui Rio. Eu sou e continuarei a ser oposição a António Costa, a Catarina Martins e a Jerónimo de Sousa”, assegurou.

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O ex-líder parlamentar considerou ter sido alvo do que chamou de “provocações e insinuações” nas últimas semanas. “Desde falta de coragem a taticismo, de calculismo a falta de autenticidade, o deslumbramento de alguns deu para quase tudo”, criticou.

“Não fui eu que estive à espera de disputar a liderança do PSD entre desejos alternantes de ser primeiro-ministro ou Presidente da República”

O ex-líder parlamentar considerou falso e injusto “acusar de falta de coragem quem passou últimos anos não num sofá ou lugar de resguardo, mas a dar o corpo às balas sem olhar a desgastes pessoais”, disse. “Não fui eu que estive à espera de disputar a liderança do PSD entre desejos alternantes de ser primeiro-ministro ou Presidente da República”, afirmou, numa referência direta a Rio, que recebeu aplausos.

E acrescentou que, se querem colar-lhe o “selo de calculismo”, haverá no partido “quem tenha a caderneta cheia e com mais selos” do que ele próprio nessa matéria. “Tenho na minha folha de serviços várias derrotas internas, mas nunca fiz opções a pensar ser candidato a coisa nenhuma e nenhum líder do PSD me pode acusar de deslealdade”, frisou.

Por isso, pediu a Rio que “ponha cobro a esses juízos de intenções” e concentre a sua energia no combate aos adversários externos, dizendo que “a sombra só incomoda os fracos”.

Sobre a sua decisão de deixar o lugar de deputado, Montenegro referiu que completou na sexta-feira 45 anos e considerou que é chegada a altura de dedicar mais tempo à sua profissão e à sua família.

“Quero que saibam que não vou abandonar o combate, vou fazê-lo noutro local, na rádio, na televisão e porventura nos jornais, Mas estejam descansados, não o farei como outros, nesse combate vou sempre ajudar e representar o PSD”, assegurou.

Se o PSD  se tornar um "apêndice destes socialistas bloquistas é um suicídio político. É de uma penada oferecer a taluda a António Costa e oferecer a terminação a Assunção”

O ex-líder parlamentar social-democrata classificou ainda como “um suicídio político” que o PSD pudesse ser “um apêndice” do atual PS, considerando que seria "oferecer a taluda a António Costa e a terminação a Assunção".

“O PS é hoje mais bloquista que socialista, seja na ação interna de forma mais clara, seja no discurso europeu onde é mais dissimulado, o PS é mais de Louçã do que é de Mário Soares”, afirmou. Disse ainda que o antigo coordenador do Bloco, Francisco Louçã, “doutrinou grande parte dos dirigentes socialistas, em especial os jovens turcos que por lá andam e mandam”, dizendo que agora até tenta “doutrinar o país na televisão, rádios e jornais”.

“Imaginar que sejamos um apêndice destes socialistas bloquistas que mandam no PS é um suicídio político. É de uma penada oferecer a taluda a António Costa e oferecer a terminação a Assunção”, disse, referindo-se ao primeiro-ministro e à líder do CDS-PP.

Notícia atualizada às 18h49