“A UE é o segundo maior parceiro comercial do Brasil e as nossas trocas comerciais poderão ultrapassar este ano a marca de 100 bilhões de dólares [quase 90 mil milhões de euros]. Um acordo entre Mercosul e União Europeia equilibrado, que pretendemos concluir ainda este ano, abrirá novos horizontes”, declarou hoje Lula da Silva.

Intervindo num fórum empresarial entre a UE e os países da América Latina e Caraíbas, em Bruxelas a anteceder a cimeira que decorre hoje e terça-feira, numa altura em que ainda existem divergências entre os blocos sobre o acordo comercial da União com o Mercosul, o chefe de Estado brasileiro defendeu um protocolo “que preserve a capacidade das partes de responder aos desafios presentes e futuros”.

Garantindo que o Brasil “voltou ao cenário internacional para contribuir para enfrentar os desafios do nosso planeta, como a crise das mudanças climáticas e o aumento das desigualdades”, após o afastamento do seu antecessor, Jair Bolsonaro, o Presidente brasileiro pediu que nesta cimeira de dois dias se envie “um sinal de que duas regiões da importância estratégica da Europa e da América Latina e Caribe estão comprometidas com uma agenda promissora”.

“O Brasil está a fazer a sua parte com uma estratégia de longo prazo, focada na credibilidade, na previsibilidade e estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade económica e com estabilidade social” e “somente assim é que vamos poder desenvolver definitivamente os nossos países”, adiantou Lula da Silva.

A capital belga, Bruxelas, acolhe hoje e terça-feira a primeira cimeira em oito anos da UE com os países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que contará com mais de 50 líderes, entre os quais Lula da Silva e o primeiro-ministro português, António Costa.

Esta que é a terceira cimeira da UE com a CELAC, oito depois da reunião de 2015, vai focar-se no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios.

O regresso ao poder do Presidente brasileiro, Lula da Silva, com uma posição pró-europeia também faz com que este seja o momento propício para reforçar os laços diplomáticos entre a UE e a CELAC.

Apesar da vontade comum de estreitar laços entre as regiões, a declaração final da cimeira está a causar divergências entre o bloco europeu e latino-americano, após oito rascunhos e de o texto ter passado de 13 páginas para sete na versão mais recente, consultada pela Lusa no domingo.

A causar maior fricção está a referência ao acordo da UE-Mercosul – formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – por haver países que no bloco comunitário (como França e Áustria) contestam essa menção por razões comerciais e ambientais.

Apesar da ambição de salientar o trabalho em curso, segundo a mais recente versão à qual a Lusa teve acesso, não é certo que esta menção esteja na declaração final, embora a atual a presidência espanhola da UE espere que a cimeira seja um ponto de partida para desenvolvimentos na conclusão do acordo UE-Mercosul, que abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.