“Como poeta, começou a destacar-se nas coletâneas ‘Poemas Livres’ (1963-1965). Mas o grande reconhecimento nasce com os seus dois volumes de poemas, ‘Praça da Canção’ (1965) e ‘O Canto e as Armas’ (1967), apreendidos pelas autoridades antes do 25 de Abril, mas com grande circulação nos meios intelectuais”, lê-se no comunicado hoje divulgado, pelo Governo português.

Esta é a 29.ª edição do Prémio Camões e o júri foi constituído por Paula Morão, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria João Reynaud, professora associada jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Leyla Perrone-Moisés, professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, José Luís Jobim, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo e pelo poeta cabo-verdiano José Luís Tavares.

O escritor Manuel Alegre disse hoje que recebeu a notícia de atribuição do Prémio Camões, com "serenidade e alegria", considerando que o reconhecimento maior é o que vem de quem o lê.

Em declarações à agência Lusa, o escritor disse que lhe dá "particuçlar satisfação", a atribuição do prémio, até porque Luís de Camões é um dos poetas que aprecia, e referiu ter reeditado recentemente o seu livro "Vinte Poemas para Camões".

"O meu reconhecimento maior é o que vem dos meus leitores através dos tempos, vencendo várias formas de censura. Naturalmente, uma distinção desta natureza tem o significado que tem", disse á Lusa Manuel Alegre, de 81 anos.

O escritor lembrou igualmente ter recebido o Prémio Pessoa, o que lhe deu "grande satisfação", por ter também "um grande significado cultural".

Marcelo reage a uma "homenagem justíssima"

"Nos termos do próprio prémio, (Manuel Alegre) contribuiu e contribui para o enriquecimento literário e cultural, não apenas português, mas do mundo da lusofonia", acentuou.

Marcelo Rebelo de Sousa falava antes de um jantar de gala dos 60 anos da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e afins de Portugal (AIMMAP) no Porto de Leixões, em Matosinhos, no âmbito do programa das comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Este prémio é o reconhecimento a uma obra “longa, exaustiva e rica” de Manuel Alegre como ensaísta, mas sobretudo como um “grande poeta” que marcou várias fases da vida nacional e que projetou de forma “inexcedível” a língua portuguesa.

Questionado sobre o facto de o anúncio do vencedor coincidir com o 10 de Junho, o chefe de Estado disse que essa coincidência torna o prémio “ainda mais gratificante”.

“Tem outro significado falar no Prémio Camões e associá-lo ao Dia de Camões, ao Dia de Portugal e ao Dia das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo fora”, afirmou.

Acrescentando que “há aqui um valor simbólico essencial e indissociável daquilo que a nossa língua representa para a nossa pátria e para todas aquelas pátrias que têm em comum o português”.

A poesia de Manuel Alegre ganhou consistência com o tempo, diz ministro da cultura

A poesia de Manuel Alegre ganhou, com o tempo, uma consistência e uma dimensão que pôs em evidência a grande qualidade da sua expressão poética, para além da voz de combate pela liberdade e pela justiça que esta poesia foi para nós, nos anos sombrios da ditadura”, afirma Luís Filipe de Castro Mendes.

O ministro da Cultura traça o percurso poético de Manuel Alegre, que “saúda e felicita calorosamente”.

Sobre a sua poesia escreve: “Marcada por um forte sentido do ritmo, da rima e da musicalidade, a sua obra destacou-se pelo seu papel de intervenção política, no final da ditadura, durante a guerra colonial e quando se agudizava a emigração para os países da Europa desenvolvida”.

“É toda essa mistura de dramas humanos, expectativas adiadas, frustrações coletivas, sentimentos de revolta e de alguma esperança nunca abandonada, que vem à superfície nos seus poemas”, acrescenta o titular da pasta da Cultura, também ele poeta.

“Mais tarde, a poesia de Manuel Alegre destacou-se pela revisitação dos principais mitos da História de Portugal, manifestando uma ‘nostalgia da epopeia’ (a expressão é de Eduardo Lourenço) em que muitos portugueses poderão rever-se”, lê-se no mesmo texto.

Prémio Camões: Lista dos 29 distinguidos

Portugal e Brasil lideram a lista de distinguidos com o Prémio Camões, com doze premiados cada um, respetivamente, seguindo-se Angola e Moçambique, com dois laureados cada - contando com o luso-angolano Luandino Vieira -, e Cabo Verde, com um.

O Prémio Camões, instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil, em 1988, foi atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga.

Segundo o texto do protocolo constituinte, assinado em Brasília, a 22 de junho de 1988, e publicado em novembro do mesmo ano, o prémio consagra anualmente “um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”.

A história do galardão conta apenas com uma recusa, a de Luandino Vieira, em 2006.

Lista dos distinguidos com o Prémio Camões:

1989 – Miguel Torga, Portugal

1990 – João Cabral de Melo Neto, Brasil

1991 – José Craveirinha, Moçambique

1992 – Vergílio Ferreira, Portugal

1993 – Rachel Queiroz, Brasil

1994 – Jorge Amado, Brasil

1995 – José Saramago, Portugal

1996 – Eduardo Lourenço, Portugal

1997 – Pepetela, Angola

1998 – António Cândido de Mello e Sousa, Brasil

1999 – Sophia de Mello Breyner Andresen, Portugal

2000 – Autran Dourado, Brasil

2001 – Eugénio de Andrade, Portugal

2002 - Maria Velho da Costa, Portugal

2003 – Rubem Fonseca, Brasil

2004 – Agustina Bessa-Luís, Portugal

2005 – Lygia Fagundes Telles, Brasil

2006 – José Luandino Vieira, Portugal/Angola

2007 – António Lobo Antunes, Portugal

2008 – João Ubaldo Ribeiro, Brasil

2009 – Arménio Vieira, Cabo Verde

2010 – Ferreira Gullar, Brasil

2011 – Manuel António Pina, Portugal

2012 – Dalton Trevisan, Brasil

2013 - Mia Couto, Moçambique

2014 - Alberto da Costa e Silva, Brasil

2015 - Hélia Correia, Portugal

2016 - Raduan Nassar, Brasil

2017 - Manuel Alegre, Portugal

[Notícia atualizada às 20:29]