
Numa intervenção no 8.º Congresso Nacional dos Economistas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou também o desejo de que após haja condições para se decidir sobre "matérias de consenso" como a segurança social e as alterações climáticas.
O chefe de Estado fez um discurso de vinte minutos em que traçou sete desafios para o período "crucial" que vai até 2021, em primeiro lugar, "mobilizar a abstenção para o voto" e, em segundo, "manter o essencial do sistema partidário", para que este "possa reformar-se sem ruturas mais ou menos drásticas".
No seu entender, em terceiro lugar, há que ver "como configuram os portugueses o equilíbrio de forças dentro dele, para que consensos essenciais de regime sejam viáveis, governação estável se afirme, e alternativa garanta a efetiva vitalidade do sistema político".
"Ou seja, que por essa via se consensualizem estratégias estruturais, a governação não tenha de gerir à vista da costa com acordos pontuais e o sistema não fique debilitado por falta de imprescindível alternativa", acrescentou o Presidente da República.
Outra questão fundamental é "se matérias de consenso inevitáveis podem finalmente ser encaradas, da qualificação e inovação às novas formas de trabalho, da demografia à segurança social e à solidariedade social e territorial efetiva, mas realista, da globalização no investimento e nas exportações aos reptos climáticos", apontou.
"Como já terão entendido, no que respeita ao Presidente da República, o desejável seria a resposta positiva a todas ou ao maior número de questões elencadas. Portugal ganharia com esse facto e poderia perder em caso contrário", afirmou, no final.
Entre os sete desafios para o período até 2021, Marcelo Rebelo de Sousa incluiu também a capacidade dos parceiros políticos e económicos para "dar expressão cabal ou pelo menos mínima a anseios da sociedade, por essa via, minimizando riscos sistémicos e, em conformidade, reduzam inorganicidades e escaladas pontualmente tentadoras".
Por outro lado, é preciso assegurar "a prossecução daquilo que existe de mais adequado e significativo hoje nas finanças e na economia, e que não pode e deve ser perdido", advertiu.
Por fim, de acordo com o chefe de Estado, há que ver "se, tudo referido, se verifica antes, durante e para além da trabalhosa presidência da União Europeia no primeiro semestre de 2021".
"Como quem diz, se a visão a prazo, sensata, mas reformista, permite converter essa presidência numa oportunidade ganha e não num desempenho externo distanciado do pulsar da nossa sociedade - o que significaria, a suceder, replicar experiências que nos não são completamente estranhas", completou.
Perante os economistas na plateia, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a mensagem de que estes "serão meses e anos muito relevantes" para o futuro do país, "em que o político pode, e muito, interferir no económico e social, para bem ou para mal".
"Compete a todos nós ponderarmos estes e mais desafios que nos aguardam, e que são essenciais para os anos seguintes", concluiu, manifestando confiança "no consabido bom senso de experiência feita dos portugueses".
Marcelo elogia contas públicas e emprego mas alerta para balança comercial
O Presidente da República elogiou hoje os "sinais apreciáveis" nas contas públicas, emprego e juros da dívida pública nos últimos dois anos, mas alertou para "algumas interrogações" quanto à produtividade, competitividade e balança comercial.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “Portugal conheceu nos últimos dois anos mudanças sensíveis”, referindo que no último destes encontros, em 2017, “estavam muito vivas ainda as dúvidas sobre a solução política ensaiada”.
Segundo o chefe de Estado, esse ano de 2017 foi “mais lisonjeiro do que o esperado, o mesmo em 2018″, embora “com adiamentos ou condicionamentos estruturais, uns, institucionais, outros traduzidos no esgaçar de áreas mais expostas, e algumas interrogações sobre a sustentabilidade na produtividade, na competitividade e no equilíbrio comercial externo mantêm-se ou avolumaram-se”.
“Mas, temos de admitir, com sinais apreciáveis no equilíbrio orçamental, no emprego, nos juros da dívida pública e no clima económico e financeiro externo relativamente a Portugal, para já não falar no turismo, mesmo este ano, com dados encorajadores até abril”, acrescentou o Presidente da República.
No seu entender, estes resultados foram alcançados “beneficiando da conjuntura externa e também de um caminho vindo de trás e da firmeza de linhas orçamentais definidas ou confirmadas, assim como do esforço de estabilização mínima do sistema financeiro e da criação de um clima politico e económico interno mais distendido”.
Marcelo Rebelo de Sousa fez este balanço no dia do debate do estado da nação na Assembleia da República, recuando à conjuntura de há dois anos e descrevendo de forma sintética a evolução da situação do país até agora.
Em 2017, não só “estavam muito vivas ainda as dúvidas sobre a solução política ensaiada” – o atual Governo minoritário do PS suportado por acordos com os partidos à sua esquerda – como também havia receios quanto aos “sufocos bancários” e “teses acerca do abreviar da legislatura”, referiu.
(Notícia atualizada às 15:40)
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