Foi tudo com o povo, sobre o povo e para o povo. Marcelo Rebelo de Sousa dedicou o discurso desde 10 de Junho, em Braga, à relevância do povo português, o princípio e o fim do que é Portugal.

O Presidente da República começou por dizer que este é "o dia do povo português, Portugal é o seu povo, Camões cantou esse povo, as comunidades são o povo espalhado pelo mundo e as forças armadas são o povo armado para servir Portugal".

Marcelo lembrou que é no povo, "sempre presente", que reside o passado, o presente e o futuro de Portugal.

"Se é verdade que os seus líderes encheram também páginas da nossa História, não é menos verdade que sem o povo, sem a arraia miúda, de que falava Fernão Lopes, não haveria o Portugal que temos. Porque foi esse povo que morreu aos milhares na conquista dos territórios e partiu em cascas de noz nos oceanos à procura do desconhecido, e ficou espalhado um pouco por todo o universo e deixou língua, alma e saudade das raízes. E ainda esteve nos momentos decisivos para podermos vir a ser o que somos, desde os combates nos séculos XIV e XVII pela nossa independência, a nossa restauração."

Marcelo Rebelo de Sousa recuou à revolução de 1820, "em que o rei passou a basear o seu poder na soberania da nação e uma constituição limitava os poderes do rei e consagrava direitos pessoais e políticos". Começou aqui, disse, "uma nova idade na nossa vida coletiva".

Marcelo Rebelo de Sousa recordou também o Brasil, que celebra este ano 200 anos de independência, proclamada "pela voz do filho mais velho do rei de Portugal, nomeado regente em nome da sua pátria de origem e que assumiu a luta libertadora".

"Celebramos este ano dois séculos do começo do fim do nosso império colonial, partilhando o júbilo dos nossos irmãos do outro lado do Atlântico", disse Marcelo, fazendo referência a "outro passo do nosso povo, que se desdobrou em dois, o povo brasileiro e o povo português, com a naturalidade do que era inevitável e portador de futuro".

Mais tarde, em 2002, "renascia como estado independente Timor-Leste, depois de mais de um quarto de século de combate heróico, no qual o povo português esteve todo, a 100%, unido ao povo timorense, apoiando na diplomacia, na política, nas instituições sociais, mas também chorando no massacre do cemitério de Santa Cruz e celebrando no referendo". Também o povo português "celebra duas décadas deste triunfo, mais perto do que nunca dos irmãos timorenses".

A unir tudo isto, reitera, está "o povo, sempre o povo português". "A nossa Pátria é História, é memória, língua, alma, sucessos e fracassos, heróis e líderes em Monarquia e República, mas é muito mais do que isso, é povo com séculos de raízes, mais o povo que se juntou a nós anteontem, ontem ou hoje".

E, nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a capacidade do povo português de receber quem chega ao nosso país e que "aprende e reaprende a receber irmãos vindos das Áfricas, das Américas, das Ásias, do Pacífico. Africanos irmãos na língua, depois brasileiros, depois europeus de Leste, depois asiáticos e africanos não falando português, há pouco afegãos, agora de novo ucranianos ou vindos da Ucrânia".

Uma nota final do Presidente da República para este povo que "escolheu o oceano como seu destino" e fez desses oceanos "a nossa terra do futuro". É por isso que Portugal será também "o centro do mundo, daqui a 15 dias, com a Conferência dos Oceanos [da ONU]".

"É o povo português que tudo isso e muito mais faz, resistindo a pandemias globais, a crises mundiais e nacionais, construindo impérios com menos de um milhão de pessoas e, depois de acabados esses impérios, deixando pedaços de si, tantas vezes os mais corajosos, os mais sonhadores, os mais resistentes, em todos os cantos da terra", enalteceu ainda.

"O povo português a razão de sermos o que somos e como somos, de sermos Portugal. Viva o povo português, viva os portugueses de ontem de hoje e de sempre, onde quer que façam Portugal, viva o nosso querido Portugal", finalizou.

“Não esperava tanta gente”

O Presidente da República confessou hoje que “não esperava tanta gente” nas comemorações do 10 de Junho, que este ano centraram-se em Braga. “Foi talvez o 10 de Junho mais participado”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa no final da cerimónia militar.

O chefe de Estado mostrou-se surpreendido com a participação da população, que encheu os locais possíveis na principal avenida da capital do Minho, a Av. da Liberdade, encheu as varandas, aplaudiu os discursos e ovacionou os militares que desfilaram durante cerca de uma hora rua acima e rua abaixo.

Os primeiros a desfilar, e um dos momentos mais aplaudidos da cerimónia, foram os ex-combatentes, cerca de 60. No final, Marcelo Rebelo de Sousa percorreu a avenida até ao local da tribuna onde o grupo estava para os cumprimentar.

“É uma homenagem muito especial, são o melhor de todos nós. São anos e anos de vida que deram à pátria e aqui estão a desfilar. Não é por acaso que começam eles o desfile, é uma forma de homenagem ao nosso passado, sempre presente”, afirmou o chefe de Estado.

Depois de vários cumprimentos e trocas de elogios entre o chefe de Estado e os ex-militares, um repto foi lançado ao Presidente: “Presidente, vamos à sua terra beber um copinho”, desafiou um ex-militar, que não ficou sem resposta. “Hoje não dá mas combinamos e vamos”, respondeu o Presidente.

Antes, no seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa deixou elogios a Braga e ao povo português.

"Portugueses, Braga recebe hoje, muitos anos depois, de novo, o 10 de Junho, o Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades e das Forças Armadas, o dia do povo português. Porque Portugal é o seu povo, Camões cantou esse povo, as comunidades são o povo espalhado pelo mundo, as Forças Armadas são o povo armado para servir Portugal", disse.

Segundo o Presidente da República, “é justo e natural que Braga, o Minho, celebrem o nosso povo (…) um pilar essencial da nossa portugalidade, muitos, muitos séculos antes de haver Portugal”.

“Aqui, neste Minho onde nos encontramos, irrompeu a aventura coletiva de nos separarmos do Reino de Leão, de nos apartarmos dos nossos irmãos galegos, de arrancarmos do galaico-português para a nossa língua de futuro. (…) De avançarmos para o sul, de nunca mais pararmos na nossa afirmação nacional”, disse.

A evocação do povo português foi uma das constantes do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa: “O povo sempre presente, na sua fé cristã, mas também abraçando outras fés e a liberdade de ter ou não fé (…)Presente, naquele tempo primeiro de dar a sua vida (…) pelo seu rei, pela sua independência", referiu.

"É o povo português a razão de sermos o que somos e como somos, de sermos Portugal, viva o povo português, vivam os portugueses de ontem, de hoje e de sempre onde quer que façam Portugal. Viva o nosso querido Portugal", terminou.

De Braga para o Reino Unido

O Presidente da República comemora hoje o Dia de Portugal também em Londres, com a comunidade portuguesa do Reino Unido, mas desta vez sem a habitual companhia do primeiro-ministro, que cancelou a sua presença por motivos de saúde.

Fonte oficial do executivo adiantou à agência Lusa que, nas comemorações relativas a Londres o Governo estará representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

Marcelo Rebelo de Sousa chega a Londres a meio da tarde e tem logo a seguir uma receção com representantes das comunidades portuguesas para assinalar o Dia de Portugal - ocasião em que discursa.
No que respeita às razões da escolha do Reino Unido para as celebrações externas do 10 de Junho, o chefe de Estado referiu recentemente que o modelo de comemorações do Dia de Portugal junto de comunidades emigrantes "começou em Paris, em 2016", no primeiro ano do seu mandato, "tem rodado pelos continentes" desde então e "era agora altura de voltar à Europa".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "também pesou" na decisão o Reino Unido ser agora "um país que não é União Europeia" e onde vivem "comunidades muito diferentes" de emigrantes portugueses: "Uma comunidade mais velha, mais antiga, hoje menos numerosa"; e outra "muito nova", composta por "estudantes, doutorandos, professores, investigadores, cientistas e outros profissionais".

No sábado, o Presidente da República começa a manhã no Escola Anglo-Portuguesa de Londres, seguindo depois para o Royal Brompton & Harefield Hospital e almoça com representantes da comunidade portuguesa ligados às artes.

Na parte da tarde, Marcelo Rebelo de Sousa visita o Imperial College – último ponto do programa oficial até agora definido. No domingo, pelas 12:00, o Presidente da República parte para Andorra.

As celebrações do Dia de Portugal no ano passado decorreram na Região Autónoma da Madeira, com um programa intenso, durante três dias, que terminou com a cerimónia militar comemorativa do 10 de Junho na cidade do Funchal.