Para homenagear o homem que fundou o PS, foi primeiro-ministro por três vezes e Presidente da República durante dez anos, o Governo português, liderado pelo socialista António Costa, decretou três dias de luto nacional e o funeral, em Lisboa, terá honras de Estado.

Após ser conhecida a notícia da morte do antigo Presidente, às 15:40, através da agência Lusa, sucederam-se as reações, em Lisboa e no estrangeiro.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou durante quatro minutos na Sala das Bicas, no Palácio de Belém, em Lisboa, e recordou Mário Soares, acima de tudo, como um "lutador da liberdade", e defendeu que Portugal tem o dever de combater pela "imortalidade do seu legado".

"Resta a Mário Soares, como inspirador, travar o derradeiro combate, aquele em que estamos e estaremos todos com ele: o combate pela duradoura liberdade com justiça na nossa pátria comum, que o mesmo é dizer, o combate pela imortalidade do seu legado, um combate que iremos vencer, porque dele nunca desistiremos, tal como Mário Soares nunca desistiu de um Portugal livre, de uma Europa livre, de um mundo livre. E, no que era decisivo, ele foi sempre vencedor", disse.

A muitos quilómetros de distância, na Índia, onde vai continuar em visita, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou os três dias de luto nacional e lembrou o fundador do PS como o rosto e a voz da liberdade portuguesa.

"Perdemos hoje aquele que foi tantas vezes o rosto e a voz da nossa liberdade. Mário Soares foi um homem que durante toda a sua vida se bateu pela liberdade, fê-lo contra a ditadura, sofrendo a prisão, a deportação e o exílio", afirmou António Costa.

Ferro Rodrigues, outro socialista, que é presidente da Assembleia da República, disse ser hoje “um dia triste”. “Morreu o militante número um da democracia portuguesa. Várias gerações tiveram Mário Soares como um herói”, disse.

À esquerda, o PCP, contra quem Soares lutou durante os anos da Revolução dos Cravos, recordou o "passado de antifascista" de Mário Soares e evocou as "profundas e conhecidas divergências", designadamente “pelo seu papel destacado no combate ao rumo emancipador da Revolução de Abril e às suas conquistas, incluindo a soberania nacional".

Ainda à esquerda, a líder do Bloco, Catarina Martins, saudou a memória de Soares, "um dos maiores protagonistas da política portuguesa", que "marcou o século XX", e que, nas lutas que escolheu, esteve em aliança ou confronto com forças à esquerda.

À direita, PSD e CDS-PP também evocaram a memória do fundador do Partido Socialista e antigo Presidente da República.

Pedro Passos Coelho, líder do PSD, disse que este foi “um dia triste”, o da morte de Soares, que classificou como "um grande democrata" e "um político polémico".

"Como um grande democrata que foi, o dr. Mário Soares foi também um político polémico, que combateu pelas suas ideias, há de ter feito muitos amigos, terá tido também, com certeza, muitos adversários ao longo de todos estes anos", disse.

Mais à direita, a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, lamentou a morte do antigo Presidente, destacando o seu “papel único na definição do Portugal Democrático Europeu”.

Ex-adversários, como Freitas do Amaral, fundador do CDS e candidato derrotado por Soares nas presidenciais de 1986, mas de quem se tornou amigo, recordou o líder histórico do PS como “o ‘Patriarca da Democracia’”.

Já Cavaco Silva, que derrotou Soares nas presidenciais de 2006, tinha ele 82 anos, admitiu as divergências, mas qualificou o seu antigo adversário como uma das personalidades mais marcantes do século XX português, sublinhando a sua faceta de "verdadeiro animal político".

Além fronteiras, as palavras de consternação vieram primeiro de Espanha, do Rei Filipe, de Felipe Gonzalez, antigo chefe do Governo e do PSOE, mas também de França, do presidente François Hollande.

Do outro lado do Atlântico, vieram também as palavras do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou Mário Soares de "um dos grandes homens do século XX".

O funeral de Mário Soares, com honras de Estado, deverá ser na terça-feira, em Lisboa, mas os pormenores estão ainda a ser tratados pela família.