“Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade, têm de assumir essa irresponsabilidade. Depois ver-se-á de que modo, em cada um deles, mas é muito duro o mundo dos abusos”, afirmou Francisco, a bordo do avião que o transportou de Lisboa, onde presidiu à Jornada Mundial da Juventude, para Roma.

Francisco foi questionado por um jornalista português sobre se tinha conhecimento do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa e o que deve acontecer com os bispos que sabiam de casos de abuso e não os comunicaram às autoridades.

Na resposta, o chefe da Igreja Católica lembrou que cerca de “42% dos abusos acontecem nas famílias”, sustentando que “ainda é preciso amadurecer e ajudar, para que se descubram essas coisas”.
Francisco pediu depois ajuda aos jornalistas para que “todos os tipos de abusos sejam resolvidos”, notando que o abuso sexual de menores não é o único.

O trabalho infantil e o abuso das mulheres são outros exemplos que apontou, referindo, neste último caso, a mutilação genital feminina.

“Dentro do abuso sexual, que é grave, há uma cultura do abuso que a humanidade tem de rever e converter-se”, defendeu.
Francisco recebeu na quarta-feira um grupo de 13 vítimas de abusos na Igreja portuguesa, segundo a sala de imprensa da Santa Sé, "acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”, alguns dos quais disseram depois, publicamente, que o Papa lhes pediu perdão.

Segundo o comunicado, o encontro, que aconteceu no primeiro dia da visita do Papa a Portugal para presidir à JMJ, que hoje terminou, "decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão, cujos dados foram divulgados em fevereiro.

No dia 26 de abril, foi apresentado o Grupo Vita criado pela Igreja Católica para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis.

A criação desse grupo foi uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa tomada após a publicação, em fevereiro do relatório da Comissão Indedependete. Esta comissão Independente foi também uma iniciativa da Igreja Católica.