Ao mesmo tempo, decorria uma outra manifestação em solidariedade com os bispos da Conferência Episcopal da Nicarágua, mediadores do diálogo, através do qual se pretende ultrapassar a crise. Nesta marcha, os participantes reclamaram a demissão de Daniel Ortega.

“Embora te doa! Embora te doa! O comandante aqui fica. Daniel, Daniel, o povo está contigo”, cantavam os sandinistas, na maioria funcionários públicos e das forças policiais.

“Estou aqui para apoiar o comandante, o único Presidente que soube eliminar a corrupção”, disse um dos participantes na marcha.

Na outra manifestação, milhares de pessoas, na maioria católicos, marcharam em solidariedade com os bispos nicaraguenses, que foram já alvos de agressões físicas.

Durante a “Peregrinação pelos bispos, defensores da verdade e da justiça”, os manifestantes agitaram a bandeira da Nicarágua e a da Igreja católica e exigiram justiça para os mortos causados pelos protestos antigovernamentais.

Ortega criticou fortemente os bispos nicaraguenses, que apelidou de golpistas por terem proposto eleições antecipadas em março de 2019. O escrutínio está previsto em 2021.

O vigário-geral da diocese de Manágua, Carlos Avilés, agradeceu aos manifestantes e disse que as igrejas vão estar sempre abertas “para quem precisa”, lembrando que os bispos defenderam sempre o diálogo para sair da crise.

A Nicarágua atravessa a crise sociopolítica mais sangrenta desde os anos de 1980, também sob a presidência de Ortega.

A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos e o conselho da ONU para os Direitos Humanos responsabilizaram o Governo nicaraguense por “assassínios, execuções extrajudiciais, maus tratos, possíveis atos de tortura e detenções arbitrárias”, acusações que Daniel Ortega negou.

O país da América Central é palco, desde 18 de abril passado, de manifestações e confrontos violentos que, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos, já causaram mais de 300 mortos e mais de dois mil feridos.

Os manifestantes acusam o Presidente Daniel Ortega e a mulher e vice-Presidente, Rosario Murillo, de abuso de poder e de corrupção.

Daniel Ortega, de 72 anos, está no poder desde 2007, após um primeiro mandato de 1979 a 1990.