De acordo com o Observador, António Costa considerou "inoportuno" o Banco de Portugal tentar afastar Isabel dos Santos da administração do EuroBic em 2016.

O jornal online terá obtido uma SMS que o confirma, enviada pelo primeiro-ministro uma hora e meia depois de publicar um excerto d' "O Governador", livro de memórias de Carlos Costa relatando o seu período enquanto governador do Banco de Portugal entre 2010 e 2020.

Na mensagem, António Costa terá desmentido ter dito que não se podia “tratar mal” a filha do Presidente de um “país amigo”, mas confirma ter ligado a Carlos Costa após uma reunião em que o Banco de Portugal tentou afastar Isabel dos Santos do EuroBic, em 2016.

Ao invés, nessa mesma SMS, o primeiro-ministro recorda que terá sublinhado ao governador do Banco de Portugal a "inoportunidade" do afastamento da filha de José Eduardo dos Santos, à época presidente de Angola, devido ao processo de venda da participação de Isabel dos Santos num outro banco, o BPI, ao espanhol La Caixa.

Em causa está o facto de no livro, Carlos Costa dizer que foi pressionado por António Costa para não retirar Isabel dos Santos do EuroBic. O episódio em causa remonta a abril de 2016, quando o então Governador do Banco de Portugal informou a empresária angolana, à data a maior acionista do BIC, e Fernando Teles, sócio da filha mais velha de José Eduardo dos Santos, que tinham de se afastar do Conselho de Administração do Banco no qual tinham uma participação de 20%, de forma a afastar a instituição bancária dos problemas que se passavam com o BIC Angola, sobretudo possíveis danos reputacionais.

Isabel dos Santos terá rejeitado a recomendação, alegando ausência de legislação na lei portuguesa que a impedisse de ser administradora do BIC, o que levou Carlos Costa a recorrer ao primeiro-ministro português que terá ficado ao lado da filha do antigo presidente angolano.

Em reação, no mesmo dia em que o excerto foi publicado, 10 de novembro, António Costa admitiu processar o ex-governador do Banco de Portugal  por ofensa à sua honra. Esta posição foi transmitida por António Costa aos jornalistas, à entrada para a reunião da Comissão Política do PS.

“A única coisa que eu posso dizer é que, como é sabido, através do Observador, foram proferidas pelo doutor Carlos Costa declarações que são ofensivas da minha honra, do meu bom nome e da minha consideração”, declarou o líder socialista.

O líder do executivo disse que contactou Carlos Costa e o ex-governador do Banco de Portugal “não se retratou nem pediu desculpas”.

“E, portanto, constituí como meu advogado o doutor Manuel Magalhães e Silva, que adotará os procedimentos adequados contra o doutor Carlos Costa, para defesa do meu bom nome, da minha honra e consideração. É a justiça também a funcionar”, acrescentou.

As reações têm começado a somar-se, tendo hoje Fernando Telles, sócio de Isabel dos Santos, dito que há informação "falsa" sobre si no livro de Carlos Costa, ameaçando recorrer a todos "os meios" para repor a verdade.

“Direito de Resposta” é o título do comunicado emitido hoje pelo empresário no qual afirma que foi “administrador não executivo do Banco Bic Português [Eurobic] de 2008 a 24 de novembro de 2020”, garantindo que aquela “informação é pública”, porque consta dos “relatórios do Banco Bic Português”.

Assim, conclui Fernando Telles, “a narrativa de Carlos Costa, no seu livro, de que não foi [ele, empresário] nomeado em 2016 é falsa e, ou se retrata, ou reserva-se no direito de repor a verdade e o seu bom nome por todos os meios que entenda adequado”.

O que Fernando Telles quer dizer é que, a partir de 2016, continuou a ser nomeado como administrador.