“Os governos […] não têm nada a temer da ação evangelizadora da Igreja, porque a Igreja não tem uma agenda política a seguir”, disse Francisco na catedral de Ulan Bator, citado pela agência francesa AFP.

A China, que faz fronteira com a Mongólia, não reconhece a autoridade do Papa em relação aos católicos no país, que estão subordinados à Associação Patriótica Católica Chinesa, um organismo estatal fundado em 1957.

A China também não tem relações diplomáticas com o Vaticano, que é o único Estado na Europa com laços formais com Taiwan.

Pequim considera Taiwan como uma província da China e ameaça invadir a ilha se Taipé declarar a independência.

Apesar dos conflitos, o Vaticano e a China renovaram um acordo no ano passado sobre a questão da nomeação de bispos chineses.

Na enorme praça Sukhbaatar, que alberga o coração do poder mongol em Ulan Bator, mais de um milhar de fiéis e curiosos aguardaram a chegada do Papa.

Para evitar serem identificados, muitos dos chineses que atravessaram a fronteira para ver o Papa cobriram a cabeça e esconderam o rosto atrás de máscaras cirúrgicas e óculos escuros.

“Temos de nos manter discretos e, sobretudo, não dizer que estamos aqui para o Papa”, disse à AFP uma chinesa que preferiu não ser identificada.

“Muitos católicos na China queriam vir, mas não puderam. Somos abençoados”, disse outro chinês, que também pediu para não ser identificado por medo de represálias na China.

Francisco chegou à Mongólia na sexta-feira, embora tenha descansado no primeiro dia da longa viagem de quase 10 horas.

No país sem litoral situado entre a Rússia e a China, o Papa foi recebido num tapete vermelho por cavaleiros mongóis que desfilaram com armaduras de metal.

Com apenas 1.400 fiéis entre os mais de 3,3 milhões de habitantes, de maioria budista, a Mongólia tem uma das mais pequenas comunidades católicas do mundo.

A Igreja na Mongólia nasceu praticamente em 1992, após a queda do comunismo, num país onde há 20 anos havia 300 batizados, segundo a agência espanhola EFE.

Na catedral de São Pedro e São Paulo, cuja nave circular se assemelha a uma tenda tradicional dos nómadas mongóis, Francisco elogiou o facto de muitos dos habitantes viverem em harmonia com a natureza há séculos.

Ao mesmo tempo, apelou para que se faça mais para proteger o ambiente no país asiático e no mundo.

O Papa, de 86 anos, pediu “um compromisso urgente e agora inevitável para proteger o planeta Terra”.

A Mongólia é um dos maiores exportadores de carvão do mundo e o ar da capital, Ulan Bator, encontra-se regularmente entre os mais poluídos do planeta.

Vastas áreas do país estão também ameaçadas de desertificação devido às alterações climáticas, ao sobrepastoreio e à exploração mineira.

Francisco também condenou a corrupção perante os dirigentes da Mongólia, onde um grande escândalo na indústria mineira provocou manifestações em grande escala em dezembro.

A corrupção representa “uma séria ameaça ao desenvolvimento de todos os grupos humanos, alimentando-se de uma mentalidade utilitarista e sem escrúpulos que empobrece países inteiros”, advertiu.