Sónia Cunha, responsável pelo Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM, tem apoiado as populações afetadas, em articulação com outras entidades como a Cruz Vermelha Portuguesa, a PSP, a Polícia Marítima, o Exército e o Instituto de Segurança Social.

Os profissionais destes organismos realizaram, desde sábado, 863 intervenções psicológicas e estão já a trabalhar no sentido de providenciarem um apoio a quem demonstre necessidade de um acompanhamento posterior.

Apesar do objetivo das intervenções atuais ser a normalização da vida destas pessoas, vítimas dos incêndios ou familiares e amigos das 64 pessoas que morreram nesta catástrofe, o trabalho destes profissionais começou assim que foi conhecida a dimensão do incêndio.

Os “primeiros socorros psicológicos” visaram, inicialmente, conseguir a estabilização emocional de quem foi confrontado com um incidente desta dimensão, considerada uma catástrofe pelas perdas que causou e o impacto comunitário que teve.

“Numa fase inicial foram avaliadas as primeiras necessidades, entre as quais a estabilização emocional dos afetados”, disse Sónia Cunha à agência Lusa.

O objetivo dos psicológicos nestas situações é mostrar às pessoas que as suas reações são normais e as esperadas numa situação tão inesperada.

“O que fazemos é ajudar a aceitar, a normalizar e isso mesmo transmitimos às pessoas. Não pedimos para que esqueçam o sucedido – nem isso seria possível – mas que se trata de algo que foi vivido e que faz parte das vivências, tal como muitas outras”, referiu.

As pessoas que necessitam de intervenção psicológica pertenciam sobretudo a dois grupos: os que perderam familiares, vidas e bens, e as pessoas com manifestações psicológicas que denotavam evolução para perturbação, com reações mais desajustadas.

“A maior parte dos pedidos de ajuda foi de pessoas que perderam familiares, mas também de pessoas com patologia prévia e que nestas situações é agudizada”, adiantou.

Em relação às pessoas com patologia prévia à catástrofe, Sónia Cunha sublinha que estas “têm menos estratégias e capacidades”.

Desde o primeiro dia em que este apoio psicológico começou a ser prestado que os profissionais trabalham para promover a pro-atividade dos intervencionados.

“Fazemos por promover a funcionalidade e o equilíbrio entre as emoções e o racionamento (sentir e pensar)”, disse.

A maioria das pessoas tem-se esforçado por repor a sua funcionalidade e normalidade, retomando as tarefas e enviando as crianças para a escola, o que é “fundamental”.

“É muito importante a normalização das rotinas”, explicou, referindo que os psicólogos tentam, nesta fase, afastar-se fisicamente.

O próximo apoio passa por encaminhar os casos que necessitem de intervenção contínua, até porque “há uma percentagem que vai desenvolver perturbações relacionadas com depressões, stress, adições e são estes os casos que serão assinalados para serem seguidos”, disse.

A maioria, contudo, “vai regularizar e repor a sua normalidade”.

Dois grandes incêndios deflagraram no sábado na região Centro, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos, tendo obrigado à mobilização de mais de dois milhares de operacionais.

Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram um total de cerca de 50 mil hectares de floresta [o equivalente a 50 mil campos de futebol] e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.

O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.

O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Ficou dominado na manhã de quinta-feira.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.