“Hong Kong é uma Região Administrativa Especial da China, e o governo central é responsável por assuntos externos relacionados com Hong Kong (…) Cai dentro da soberania da China decidir quem é autorizado a entrar no território chinês e quem não é”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China Hua Chunying, no ‘briefing’ diário à imprensa em Pequim.

O ativista britânico Benedict Rogers, que é vice-presidente da comissão de direitos humanos do Partido Conservador e crítico da China, foi na quarta-feira impedido de entrar em Hong Kong, depois de aterrar na cidade proveniente de Banguecoque, sem que lhe fossem dadas explicações, segundo disse à imprensa.

Rogers viveu em Hong Kong entre 1997 e 2002.

Além de criticar a prisão dos ativistas Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow, do movimento pró-democracia que se manifestou nas ruas de Hong Kong em 2014, o britânico também manifestou preocupação com o que considera ser a deterioração do princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual o território goza de elevado grau de autonomia e de liberdades e garantias não observadas na China.

Londres já pediu explicações a Pequim sobre o impedimento de entrada do ativista na antiga colónia britânica.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês não respondeu diretamente à pergunta do jornalista sobre se o governo central disse ao executivo de Hong Kong para não deixar entrar Benedict Rogers no território, mas sublinhou que “Hong Kong regressou à China em 1997" e que "as questões de Hong Kong são meramente assuntos internos da China".

"A firme oposição do governo chinês à interferência nos assuntos internos da China por qualquer governo estrangeiro, organização ou indivíduo sob qualquer forma permanece inabalável”, disse Hua Chunying.

“Já se essa pessoa, que mencionou, chegou a Hong Kong com a intenção de interferir com os assuntos internos e com a independência judicial da Região Administrativa Especial de Hong Kong, ele próprio sabe disso muito bem”, acrescentou na resposta ao jornalista.

Segundo a Lei Básica de Hong Kong (miniconstituição), há duas matérias que são da competência do Governo central: as relações externas e a defesa. A imigração é da responsabilidade de Hong Kong.

A chefe do executivo de Hong Kong tem vindo a ser questionada pela imprensa sobre o caso do ativista britânico desde quarta-feira.

"Não posso revelar detalhes, mas de acordo com a Lei Básica (miniconstituição), o Governo central é o responsável pelas relações externas. Espero que todos consigam entender isso”, disse hoje Carrie Lam num programa de rádio em Hong Kong.

Lam disse que a Lei Básica de Hong Kong não confere um elevado grau de autonomia em todos os aspetos.

“A autonomia [de Hong Kong] não quer dizer tudo, não é isso que está escrito na Lei Básica”, afirmou.

“É preciso ver se o processo de imigração envolve relações externas”, disse.

Já na quarta-feira, dia em que Rogers foi impedido de entrar no território, a chefe do Executivo de Hong Kong não comentou o caso, quando questionada sobre o incidente numa conferência de imprensa que se seguiu à apresentação das suas primeiras linhas de ação governativa da região para 2018.

“Não faço comentários sobre casos individuais de entradas [no território]. Estou certa de que esta é uma questão das autoridades da imigração”, disse.

O sentimento de erosão das liberdades que Hong Kong tem vivido nos últimos anos, atribuído à ação de Pequim, tem vindo a ser contestado por via de significativos protestos populares e pela oposição, cada vez mais acérrima, dos grupos parlamentares do chamado campo democrático.

Vários deputados pró-democratas em Hong Kong e também a antiga secretária-chefe Kong Anson Chan consideraram o incidente como “chocante”.