Pequim anunciou, na quarta-feira, o fim das quarentenas obrigatórias à chegada ao país, a partir de 8 de janeiro, no último vestígio da política “zero covid”, que, durante quase três anos, manteve a China fechada ao mundo desde que a pandemia começou.

Embora o governo chinês tenha deixado de publicar o número de casos diários, funcionários em várias cidades estimaram que centenas de milhares de pessoas foram infetadas, ao mesmo tempo que hospitais e crematórios estão sobrecarregados em todo o país.

O que está a acontecer? 

Com o vírus agora livre para circular entre quase um quinto da população mundial, muitos países e especialistas temem que a China se esteja a tornar um terreno fértil para novas variantes.

Cada nova infeção aumenta as hipóteses do vírus sofrer uma mutação, disse Antoine Flahault, director do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra.

“O facto de 1,4 mil milhões de pessoas serem subitamente expostas ao SARS-CoV-2 cria obviamente condições favoráveis ao aparecimento de variantes”, disse à agência de notícias France-Presse (AFP).

Com isto, vai haver mais cuidado nas fronteiras?

Vários países anunciaram já que vão tornar obrigatório o teste à covid-19 para os viajantes oriundos da China para evitar que o vírus se espalhe no caso de virem a existir novas variantes.

Índia, Taiwan, Japão, Malásia e Estados Unidos foram os primeiros a anunciar esta medida.

Na Europa, o governo espanhol anunciou também o estabelecimento de “controlos nos aeroportos” para os viajantes com origem na China, para garantir que não são portadores do vírus que provoca a doença da covid-19. Itália está a ponderar seguir a mesma medida, que já está implementada na região da Lombardia.

Esta tarde, França seguiu o mesmo caminho e o Reino Unido também se prepara para pedir teste aos viajantes que chegam da China.

O que diz a Comissão Europeia?

A Comissão Europeia reconheceu o aumento “alarmante” de casos de covid-19 na China e recomendou medidas de vigilância aos Estados-membros, como a sequenciação de amostras.

Numa carta enviada aos ministros da saúde dos 27 países da União Europeia e citada pela Europa Press, a Comissária Europeia da Saúde, Stella Kyriakides, diz que Bruxelas está “atenta aos desenvolvimentos”, assume que é necessário estarem preparados, embora, por enquanto, não existam medidas comuns.

Portugal vai adotar novas medidas?

“Os Ministérios da Saúde, da Administração Interna e dos Negócios Estrangeiros estão a preparar a adoção, nos aeroportos, de medidas de controlo dos passageiros oriundos da China, que serão implementadas se e quando se revelarem necessárias”, adiantou à agência Lusa Manuel Pizarro.

Segundo disse o governante, o Governo está a acompanhar a evolução da covid-19 na China, que “constitui um motivo de preocupação”, mantendo um “diálogo estreito com os outros países europeus, designadamente no quadro da União Europeia e com os organismos sanitários internacionais”.

De acordo com Manuel Pizarro, há apenas um voo direto semanal que aterra em Portugal proveniente da China, mas está a ser avaliada a possibilidade de medidas de controlo de passageiros de voos com escalas noutros países.

“Não faz sentido nenhum obrigar as pessoas a controlos repetidos. Se vier a ser necessário fazer este controlo, faz sentido garantir que todos foram controlados pelo menos num local, neste caso terá de ser feito em Portugal se não for feito noutro sítio”, adiantou o ministro.

É caso para alarmismo?

De acordo com o governante, o Ministério da Saúde está a acompanhar esta situação “com toda a prudência e com todo o cuidado, mas não há nenhum motivo de alarmismo”.

“Temos hoje uma situação muito diferente do que tínhamos anteriormente. Temos a população vacinada, sobretudo a população vulnerável, com uma altíssima taxa de vacinação, e temos um conhecimento sobre a covid-19 muito diferente do conhecimento do passado”, salientou.

Para Manuel Pizarro, a situação em Portugal “justifica atenção, monitorização, informação e preparação, mas nada mais do que isso”, alegando que, nesta altura, “qualquer alarmismo seria completamente injustificado”.

O ministro da Saúde garantiu ainda que o Instituto Ricardo Jorge continua a monitorizar e evolução do coronavírus SARS-CoV-2 que provoca a covid-19, não se registando “nenhuma novidade do ponto de vista dos serótipos dos vírus que estão em circulação”.

“Essa é uma monitorização que tem de ser feita sempre e que também será feita, de forma aleatória, aos passageiros que vêm do território chinês. Essa componente da monitorização faz parte integral e inamovível do nosso programa de vigilância para garantir segurança às pessoas”, sublinhou o ministro.

Também a Direção-Geral da Saúde, no seu relatório semanal sobre os vírus respiratórios, reconhece que o aumento do número de casos diários de infeção por SARS-CoV-2 na China nos últimos dias é uma situação que “deve ser acompanhada de perto nas próximas semanas”.

*Com Agência Lusa