Segundo o protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), a Associação das Casas de Fado (ACFL) "pretende colaborar na implementação e desenvolvimento de várias iniciativas para promoção do Fado". E vai fazê-lo com o apoio financeiro da CML, no valor de 574.385,09 euros, que se destina ao "desenvolvimento e prossecução das atividades, constantes do protocolo".

A ACFL congrega 11 empresas, num total de 16 casas de Fado situadas em Lisboa.

Na reunião do executivo camarário realizada na terça-feira foi acrescentado um ponto deliberativo para abrir a possibilidade de candidatura às outras casas de Fado que ficaram de fora deste apoio agora aprovado de forma unânime.

"Reafirmar a recetividade da Câmara Municipal de Lisboa (CML) em apoiar o setor do Fado, declarado pela UNESCO Património Cultural Imaterial da Humanidade e Património de Lisboa, durante a crise económica da Covid-19, nas suas diferentes expressões, por forma a assegurar a sobrevivência dos seus agentes e artistas", lê-se no ponto acrescentado.

A CML justifica este apoio com a "necessidade de salvaguardar" um "património único português face a uma situação extraordinária de pandemia, causada pela Covid-19, que impede este setor de gerar as normais receitas económicas e coloca em risco a própria existência futura do mesmo".

A ACFL propõe-se a desenvolver "duas iniciativas relevantes para o objetivo de promover o Património Cultural Imaterial da cidade e apoiar as casas de fado de Lisboa, nomeadamente através da produção de um magazine televisivo dedicado ao Fado e da realização de uma Festa do Fado".

Em nota enviada à agência Lusa, a ACFL refere que tem as suas origens no trabalho conjunto das casas de fado inscritas na Associação de Turismo de Lisboa (ATL) e que desenvolveram diversas ações, nomeadamente no programa "StopOver", uma parceria da TAP Air Portugal com diversas entidades associadas do Turismo de Lisboa, há cerca de três anos.

"Estas parcerias resultaram na necessidade de constituição de uma estrutura que permitisse a representatividade formal, de forma a criar um programa para o desenvolvimento de ações que promovessem a importância do Fado, a Cultura Fadista e apoiasse os seus associados", lê-se na mesma nota.

Segundo a ACFL, as 11 empresas que a constituem apresentam um volume de faturação global superior a 13 milhões de euros, empregando 284 pessoas.

A ACFL "decidiu que mais do que solicitar apoios sem contrapartidas, deveria criar projetos com mérito para poderem ser apoiados, e constituírem um património que perdurasse", lê-se na mesma nota.

“O Fado é de Tod@s"

As casas que não fazem parte da ACFL desenvolveram, por seu lado, um projeto que dizem ter “um forte cariz social”, já que conta com “mais de 30 outras casas de fado, mais de 200 fadistas e que terá influência em centenas de Lisboetas.”

Nasceu assim o projeto “O Fado é de Tod@s", entregue ontem à Câmara de Lisboa, via correio eletrónico.

A fadista e dona da casa de fados “Coração de Alfama”, Clara Sevivas, que tem sido a porta-voz do grupo informalmente designado por União de Casas de Fado, diz  que o projeto “O Fado é de Tod@s" é uma proposta “inclusiva”. A preocupação máxima, explica, foi “apoiar os músicos e fadistas que trabalhavam todos os dias e que agora estão sem trabalho”.

Aguardam agora uma resposta positiva da CML.

A ACFL afirma-se interessada na "entrada de novos elementos", segundo "as condições definidas", designadamente: o "cumprimento da legalidade institucional, nomeadamente comprovando o pagamento de direitos de autor e das licenças para persecução da atividade", entre outras, como ser um espaço onde apenas se escuta fado ou a "existência de um elenco, comprovado através da existência de contratos de trabalho ou contratos de prestação de serviços", de modo a "verificar e promover os direitos de estabilidade dos artistas".

Silêncio, que eles querem cantar o Fado. Mas, desde abril, que se discute porque é que algumas casas de fado são apoiadas e outras não
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No final de março, a CML tinha anunciado uma linha de apoio a artistas em situação crítica, no valor de um milhão de euros para projetos de dinamização cultural da cidade. Ao valor acresciam 250 mil euros, para ajudar à subsistência de trabalhadores independentes e entidades do setor. Nesta medida, aprovada no âmbito do Fundo de Emergência Social do município, cabiam artistas e criadores nas áreas de “artes visuais, artes performativas, design, moda, literatura, património, cinema, audiovisual”.

O programa já teve vários desenvolvimentos com destaque, nas últimas semanas, para a seleção das casas de fado a serem apoiadas e os moldes em que o processo vai decorrer.