“António Costa tem sugerido que, seja qual for o candidato a ser eleito [líder do PSD], vai ser uma relação mais fácil do que com Pedro Passos Coelho. Desengane-se, o PPD/PSD não vai ser mais doce do que foi com Pedro Passos Coelho”, avisou Pedro Santana Lopes, numa sessão de esclarecimento com militantes na Amadora.

O antigo primeiro-ministro aconselhou António Costa “a mudar de atitude”.

“Tem de nos respeitar como principal partido de oposição e como maior partido português”.

Santana Lopes frisou que um dos elos de união da atual solução governativa foi precisamente o ainda líder do PSD, Passos Coelho, e considerou que a mesma só se mantém, apesar das muitas contradições internas, por “sobrevivência no poder”.

Como um dos exemplos, Santana apontou a recente eleição de Mário Centeno para presidir ao Eurogrupo, “considerado uma das fontes do mal” por PCP e BE.

“E a coligação continua, há aqui qualquer coisa que me escapa…”, ironizou.

Numa sessão que começou com perto de uma hora de atraso e em que os militantes encheram um pequeno auditório da Biblioteca Municipal da Amadora, Santana Lopes centrou parte da sua intervenção nas funções do Estado.

“Quase apetece dizer que temos de reinventar o Estado, que continua pesado e a absorver grande parte da riqueza nacional e continua a não satisfazer as funções essenciais que lhe estão atribuídas”, salientou.

Para o candidato à liderança do PSD, é preciso questionar porque pagam os portugueses impostos tão pesados, quando depois o Estado falha em áreas como a defesa ou a segurança dos cidadãos: “Para financiar um Estado abusador, gastador e muitas vezes opressor”, concluiu, salientando que é por isso que insiste no crescimento como grande desígnio nacional.

Na sua intervenção, não faltaram algumas críticas ao adversário nas diretas de 13 de janeiro, Rui Rio, lamentando que ainda não tenham sido possíveis os debates que permitiriam “comparar obras” entre ambos.

“Não é nada indiferente saber se, no dia 13 de janeiro, vão ser escolhidos pela direção do partido alguns dos que andam escondidos, ou só aparecem em programas na TV à quinta-feira”, disse, numa referência que poderá ser dirigida à ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite e a Pacheco Pereira, ambos apoiantes de Rio, e que têm espaços de comentário televisivo nesse dia.

Dirigindo-se ainda ao antigo autarca do Porto, Santana pediu ao seu adversário para que concretize medidas concretas sobre algumas das reformas que tem defendido, como a do sistema político ou da justiça.

“Neste momento, a minha prioridade não é a reforma do sistema político, o que eu quero é organizar o partido, preparar propostas alternativas à frente de esquerda e daqui a ano e meio ganhar as legislativas”, afirmou, salientando que “o PPD/PSD não nasceu para ser segundo”.

Sobre o papel do Presidente da República, Santana Lopes defendeu que tem de ser “institucionalmente correto com o Governo e com a oposição”, e reiterou que o partido tem de ter uma liderança adequada a este ciclo político.

“Não alguém que esteja distante das pessoas, não estamos em tempo de estágios de liderança”, avisou.

Mas as críticas mais fortes à candidatura de Rio vieram do líder da distrital de Lisboa, Pedro Pinto, que discursou antes de Santana Lopes.

“O que eu não aceito é ter hoje um candidato a líder do partido que apostou num candidato alternativo no Porto ao do PSD”, criticou Pedro Pinto, dizendo ainda que o atual líder, Pedro Passos Coelho, “foi afastado com uma grande ajuda de pessoas sentadas na outra candidatura”.

Já o líder da concelhia da Amadora e deputado Carlos Silva desafiou todos os militantes a apoiarem livremente o seu candidato, desde as bases aos dirigentes nacionais, passando pelo líder parlamentar do PSD.