Bahrein, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iémen, Líbia e Maldivas anunciaram hoje o rompimento de relações diplomáticas e o corte de ligações aéreas e marítimas com o Qatar

A Arábia Saudita afirmou querer “proteger a sua segurança nacional dos perigos do terrorismo e do extremismo”, enquanto o Bahrein sustentou a sua decisão acusando Doha de “minar a segurança e estabilidade” do país e de “interferir nos seus assuntos” internos.

O Egito também anunciou o corte de relações, acusando o Qatar de apoiar organizações terroristas, como a Irmandade Muçulmana, e de adotar um comportamento hostil relativamente ao país.

As nações anunciaram ainda a retirada dos diplomatas do Qatar dos seus territórios. Já a Arábia Saudita encerrou as ligações aéreas e marítimas com o país.

Aos quatro países que esta madrugada anunciaram o corte diplomático, juntou-se nas últimas horas o Iémen, a Líbia e as Maldivas.

O Qatar foi também foi expulso da coligação militar árabe que atua no conflito no Iémen. A coligação, liderada pela Arábia Saudita, justificou a decisão pelo suposto apoio do Qatar a organizações jihadistas no Iémen, de acordo a AFP que cita um comunicado divulgado pela agência oficial saudita SPA.

No documento, o governo do presidente Mansur Hadi anunciou que apoia a decisão da coligação árabe e a ruptura das relações diplomáticas com o Qatar. O governo iemenita denuncia ainda o Qatar por "abusos, vínculos com as milícias de conspiradores e apoio aos grupos extremistas".

Esta pode tornar-se na crise diplomática mais grave desde a criação, em 1981 do CCG, Conselho de Cooperação do Golfo, que inclui Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Qatar. Apenas o Kuwait e o Omã mantêm relações diplomáticas com o Qatar neste momento.

"Injustificada"

O Qatar já respondeu e lamentou esta decisão coordenada que diz ser 'injustificada'. De acordo com a Al Jazeera, que cita uma nota de imprensa oficial, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar afirma que "as medidas são injustificadas e baseiam-se em alegações que não têm razão de ser". A nota acrescenta ainda que as decisões "não terão qualquer efeito nas vida dos cidadãos e residentes".

O ministro considera também que esta decisão tem um “objetivo claro: colocar o Estado [do Qatar] sob tutela, o que constitui uma violação da sua soberania” e é “totalmente inaceitável”.

Recorde-se que o Qatar será o país anfitrião do Mundial de Futebol de 2022.

A companhia aérea Etihad Airways, Emirados Árabes Unidos, já anunciou a suspensão dos seus voos de e para o Qatar. Em comunicado, a Etihad Airways indicou que a medida vai entrar em vigor na próxima terça-feira, 5 de junho, "até nova ordem". No seu site, a transportadora lamenta o incómodo causado pela suspensão" e informa que oferecerá aos seus passageiros "outras opções", incluindo o reembolso total dos bilhetes de avião.

Também a Emirates Airlines e a FlyDubai suspenderam voos entre o Dubai e Doha, capital do Qatar, a partir da próxima terça-feira. Já a companhia saudita Saudia anunciou que iria suspender qualquer voo de e para o Qatar já a partir desta segunda-feira.

Em resposta, a Qatar Airways, uma das maiores companhias de longo curso da região, também anunciou a suspensão de todos os voos para a Arábia Saudita.

15 dias depois da visita de Trump

A movimentação diplomática acontece duas semanas após a visita de Donald Trump à Arábia Saudita. Num discurso proferido em Riade, capital saudita, o presidente norte-americano pediu aos países muçulmanos que se recusem a ser um "santuário de terroristas". Num discurso muito centrado no combate ao terrorismo, Trump afirmou que todos os países têm de participar nos esforços para erradicar o terrorismo e “trabalhar honestamente” para combater “a crise do extremismo islâmico e os grupos terroristas islâmicos que inspira”.

O secretário de Estado dos EUA já reagiu. Rex Tillerson, de visita de Estado à Austrália, falou esta segunda-feira à imprensa e afirmou que não espera que esta decisão dos países do Golfo tenha um efeito significativo na luta contra o Daesh.

Em Sidney, depois de se ter encontrado com os ministros australianos dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, Rex Tillerson pediu aos países do CCG [Conselho de Cooperação do Golfo - que inclui Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Qatar]  para que se mantenham unidos e que resolvam as suas diferenças, acrescentando que os EUA estão disponíveis para ajudar nas conversações.

[Notícia atualizada às 11h39]