Foi uma campanha "sem incidentes" que correu "muito bem", começou por dizer Adalberto da Costa Júnior em entrevista, esta noite, à CNN Portugal (que também convidou o candidato do MPLA, João Lourenço, mas recusou o convite).

O líder da UNITA começou por apontar a falta de transparência na pré-campanha que "teve um desrespeito total à lei da imprensa. As listas eleitorais e os cadernos eleitorais não foram publicados atempadamente. Tudo isto no silêncio do tribunal constitucional", acusou o engenheiro eletrotécnico.

"A UNITA tem provas das reclamações dos processos", disse, recordando também a polémica com os cadernos eleitorais onde constavam mais de "dois milhões" de nomes de pessoas já "falecidas".

Relativamente à campanha propriamente dita, Adalberto da Costa Júnior indicou que correu muito bem e sem incidentes. "Não estamos a viver um clima de violência. Toda a campanha decorreu de forma pacífica".

Quando questionado sobre se receia violência pós-resultados, o líder da UNITA clarifica que os "cenários" do país, atualmente, "são totalmente distintos. Os partidos de hoje são inteiramente civis. Apenas o Governo tem armas", isto é, a polícia e as forças de segurança. "Não temos nenhuma vontade de entrar na violência", frisou.

A questão, explica, é que "os dirigentes do MPLA não estão preparados para a alternância política e isso é que preciso estar atento", afirmou referindo-se ao apelo que tem feito aos eleitores para que se mantenham perto das assembleias de voto depois de votar e não "em casa", [como acusa o MPLA]. "Isso é falso. A UNITA tem apelado para votar, sair da assembleia e não ir para casa, mas não ficar na assembleia" [mesa de voto].

"Queremos as pessoas próximas das assembleias, e porquê? As listas contêm milhões de cidadãos impossibilitados de lá estarem. Estamos a falar de milhões de cidadãos mortos. Todos eles morreram. Como estão lá? A única forma de o cidadão ter a certeza que controla o seu voto é não indo para casa, é ficar próximo da assembleia, mas não ficar lá dentro. Vote, sai e fica nas imediações para dificultar as manobras de troca das urnas. Para que haja respeito na contagem do voto", declarou o antigo estudante da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

"É muito triste que um governo que organiza as quintas eleições não fique equidistante. O João Lourenço está assustado com a hipótese de perder", acrescentou Adalberto da Costa Júnior, referindo-se à transição de poderes, caso vença as eleições. Transição que tem levantado preocupações sobre se será uma passagem de poderes "suave" ou não, caso o MPLA perca o sufrágio.

"[O MPLA] tem demonstrado que não está preparado. Confunde alternância com atentar contra a segurança do Estado. Qualquer risco que possa existir vem de um partido que não se preparou para a democracia", avisa. "Tivemos abertura suficiente para ter nas listas todos os membros da sociedade civil", ao contrário do MPLA.

"A legislação em angola não é democrática. Permite que num só boletim se eleja dois membros do governo. Aqui é possível um partido ter minoria e governar sobre os outros. Não é como a geringonça em Portugal", compara. "Estamos completamente convencidos que vamos ter a maioria nas urnas, temos de garantir que essa não seja roubada pelo "Partido das Instituições"".

Sobre a questão das "perseguições" que têm sido feitas a membros da família do anterior presidente, Adalberto da Costa Júnior foi peremptório ao afirmar que "a UNITA está muito tranquila porque foi a que levou ao parlamento a primeira proposta de lei de repatriamento de capitais. E quem é que não a aprovou? O MPLA", lembra. "Querem uma angola de desenvolvimento e não uma de corruptos e de perseguidos", disse.

"Perseguiram os filhos do antigo presidente, mas protegeram os ministros milionários que estão no Governo", reage o candidato da UNITA quando questionado sobre o apoio que terá recebido de apelo ao voto na UNITA, pelos filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos, e concluiu  que também recebeu o apoio do antigo primeiro-ministro que "não é um empresário, não é um milionário".

A campanha oficial terminou esta segunda feira, depois de todos os partidos candidatos percorrerem o país ao longo de 30 dias na estrada. A votação decorrerá na quarta-feira, 24 de agosto.