“O resultado da CDU, com a redução da sua representação parlamentar e uma percentagem abaixo do que alcançámos há dois anos, significa um desenvolvimento negativo, mas não deixa de constituir uma importante expressão de resistência, com tanto mais valor e significado quando a sua construção teve de enfrentar o prolongado enquadramento caracterizado pela hostilidade e menorização”, declarou.

Paulo Raimundo foi o primeiro líder partidário a pronunciar-se sobre as eleições, num momento em que os resultados ainda não estavam completamente apurados, e denunciou o contexto em torno da CDU no período pré-eleitoral, invocando a “prolongada falsificação de posicionamentos do PCP, para alimentar preconceitos anticomunistas e estreitar o seu espaço de crescimento”.

Apontou ainda a “promoção de forças reacionárias e uma forjada disputa entre de dois candidatos a primeiro-ministro” como razões para condicionar as escolhas do eleitorado, numa intervenção realizada num hotel junto à sede do PCP, em Lisboa, na qual saudou os cerca de 200 mil eleitores que depositaram o seu voto na CDU e assegurou o compromisso de enfrentar a política de direita e combater projetos reacionários.

O líder comunista começou a falar pouco depois das 23:00, numa altura em que a Aliança Democrática (AD, que junta PSD, CDS e PPM) liderava o apuramento dos resultados, tendo considerado essa situação “um fator negativo para a resposta e solução de problemas” da população e antecipando um “caminho de retrocesso e de ataque a direitos e favorecimento do grande capital”.

Paulo Raimundo defendeu ainda que o resultado da AD “é inseparável das opções da governação do PS”, associando essa questão ao crescimento do Chega: “A promoção da política de direita, com o que gerou de injustiças e legítimo descontentamento face ao acumular de dificuldades, favoreceu o discurso demagógico, nomeadamente do Chega”.

Considerando que os comunistas foram “menorizados e caricaturizados” ao longo dos últimos meses e que o PCP foi alvo de uma “ofensiva brutal”, o líder da CDU avisou que aqueles que esperavam um desaparecimento do parlamento se enganaram e que continua a existir “um longo caminho para percorrer”, não fechando a porta a uma convergência à esquerda.

“Contem-se os votos, apurem-se os resultados finais e vejam-se os deputados eleitos. Depois, no fim, a gente logo conversa. Os deputados que a CDU elegeu e os votos que teve vão servir para ser a primeira linha de combate à direita”, vincou.

O secretário-geral do PCP refutou ainda uma transferência direta de votos da CDU para o Chega, ao notar que “não há nenhuma possibilidade” desse cenário, e deixou um alerta aos eleitores que votaram no partido liderado por André Ventura.

“Houve milhares e milhares de pessoas que foram arrastadas por um voto pensando que dali vai sair alguma solução para as suas vidas e vão constatar que dali não sairá nenhuma solução. Uns voltarão, outros sairão daquele voto, não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Já vimos este filme. Há uma parte das pessoas que votou a pensar na solução para os seus problemas e que depositou os votos em forças que não lhes vão resolver nenhum problema, pelo contrário. Vão agravar todos os problemas e este é que é o desafio que temos pela frente”, concluiu.

Com mais de 99% dos resultados apurados nas eleições legislativas deste domingo, a CDU contabiliza 3,3% dos votos, tendo assegurado até agora a eleição de três deputados para a Assembleia da República: Paulo Raimundo (Lisboa), Paula Santos (Setúbal) e Alfredo Maia (Porto).