“As perspetivas da República Centro-Africana inspiram-me um otimismo moderado”, declarou durante uma audição na Comissão de Defesa do Senado, realizada em 20 de fevereiro, cujo conteúdo foi divulgado hoje no sítio na internet da câmara alta.

“Otimismo, porque o acordo de paz não estava adquirido. Moderado, porque, apesar da iniciativa de paz da União Africana que visava preservar a formação das tropas de toda a ingerência russa, esta é muito presente”, acrescentou a ministra francesa.

O acordo de paz assinado em 6 de fevereiro entre o governo de Bangui e os grupos armados, que controlam 80% do território, tem por objetivo acabar rapidamente com a violência que assola o país desde 2013.

As autoridades comprometeram-se em criar um governo inclusivo e os grupos armados a respeitar a integridade territorial do país, acabar com as hostilidades e participar no programa Desarmamento, Desmobilização e Reintegração.

Desde a assinatura do acordo, ocorreram alguns incidentes armados, com vários mortos, mas não qualquer combate de envergadura.

“A União Europeia e a França asseguram o essencial da formação das forças centro-africanas e o fornecimento de armas” a estas forças, indicou Florence Parly.

“Mas a propaganda russa faz crer à população que a formação, o armamento e a ajuda ao desenvolvimento económico são garantidas pela Rússia. Estamos, por consequência, envolvidos num combate de influência”, acrescentou.

A França evidenciou a presença no país de mercenários do grupo Wagner, suspeito de pertencer a um empresário russo, da confiança do Kremlin, e deplorou a existência de uma retórica “antifrancesa”, existente no país desde a chegada dos russos.

“Deixemos este oitavo acordo de paz [desde o início das hostilidades] avançar, mas sem ingenuidades”, alertou a ministra.

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por grupos armados juntos na designada Séléka (coligação, na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Portugal está presente na RCA desde o início de 2017, no quadro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização na República Centro-Africana (MINUSCA).

No início de setembro de 2018, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA, que já sofreu 75 mortos desde que foi criada, em 2014.

Aquela que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta no país é composta por 180 militares (177 do Exército e três da Força Aérea) e iniciou a missão em 05 de setembro. Outros seis militares do Exército integram o comando da missão das Nações Unidas.

Portugal também integra e lidera a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

Na EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das Forças Armadas do país, Portugal participa com um total de 53 militares (36 do Exército, nove da Força Aérea, cinco da Marinha e três militares brasileiros).