“Esta teoria agora de que não podemos fazer isso porque defendíamos que o PS devia ter deixado passar o Governo [de Passos Coelho] (…). E agora fazíamos o quê? O PS formava Governo para nós sermos coerentes com os nossos princípios e viabilizávamos o deles, quando nós ganhávamos eleições sem maioria o PS fazia a frente de esquerda. Isto é de anedota”, afirmou Santana Lopes, em entrevista à SIC, confrontado com a posição do seu adversário, Rui Rio, que admitiu que viabilizaria um executivo minoritário do PS.

Questionado sobre se tal posição não significaria atirar o PS para “o colo da esquerda”, o antigo primeiro-ministro considerou que isso não seria responsabilidade do PSD.

“Quando o PS mudar de líder e vier pedir desculpa, talvez voltemos ao mesmo princípio de ‘quem ganha eleições governa’, aí podemos conversar. Com este líder do PS está claro como as coisas são”, afirmou.

Na entrevista, Santana Lopes foi confrontado com um excerto de uma intervenção sua na Correio da Manhã TV (CMTV) em 2013, na qual afirmou: “Depois do que passei, em 2004, 2005, depois do que aconteceu, com mais culpa minha ou não, acho que se concorresse a primeiro-ministro não tinha possibilidades de ganhar as eleições. Não tenho dúvida nenhuma sobre isso, nem que o vento mudasse 10 vezes”.

Hoje, Santana disse que este comentário foi feito quando Pedro Passos Coelho era primeiro-ministro e ironizou que, “com as alterações climáticas que tem havido, isso dos ventos é diferente”.

“Tenho a certeza de que estou em condições de disputar as próximas eleições e de as ganhar a António Costa”, afirmou, pedindo que olhem mais para as suas obras do que para as suas palavras.

O candidato foi depois confrontado pela entrevistadora Clara de Sousa com o pedido de desculpas que fez por episódios do Governo que liderou e que considerou menores, e pediu-lhe um comentário sobre outros que definiu como “de fundo” nesse período, como o anúncio de novas travessias sobre o Tejo ou a acusação de limitação da liberdade de expressão, que levou Marcelo Rebelo de Sousa a deixar o seu espaço de comentário na TVI.

Sobre esta última, Santana sublinhou que o seu então ministro Rui Gomes da Silva apenas apontou a falta de contraditório que existia naquele espaço de comentário e lamentou as consequências.

“O que eu gosto é de contraditório e não de dois pesos e duas medidas”, disse, considerando que um Governo que esteve quatro meses em plenitude de funções não deve ser julgado.

Santana Lopes recusou igualmente pedir desculpas pela demissão de Henrique Chaves, o seu ministro adjunto, dizendo que nunca lhe respondeu por “uma questão de dignidade”, mas admitiu que não voltaria a fazer tudo igual.

“Pouco inteligente é quem não tira lições da vida, mas o entusiasmo é o mesmo, o fervor que o meu país cresça”, sublinhou.

Na Economia, voltou a defender um modelo assente no crescimento, uma “política fiscal ousada” com descida do IRC e até dos impostos sobre os trabalhadores: “As famílias estão muito atrofiadas”.

Acusando o seu adversário de copiar muitas das suas ideias, Santana recusou que o discurso da oposição possa ser esvaziado pelos sucessos económicos do Governo.

“Eu é que vou esvaziar o discurso aos outros com o que sei de políticas sociais”, disse, acrescentando que recusará ataques ao ensino privado e a ideia de que o Serviço de Saúde só pode ser o público.

No final, o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi questionado sobre se é a favor ou contra a entrada desta instituição no Montepio, mas Santana remeteu essa resposta para o actual provedor.

“Eu precisava da avaliação, quando vier a avaliação eu respondo”, afirmou, alertando, contudo, que o investimento nunca deveria ultrapassar os 10% do capital da Santa Casa, ou seja, não mais do que 60 milhões e euros.

Sobre o seu apoio já anunciado a uma eventual recandidatura presidencial do Presidente da República, Santana recusou que se trate de oportunismo político: “A popularidade não é contagiosa, eu é que tenho de lutar pela minha”.

Questionado sobre se já se consegue rir da sua ‘gaffe’ em que disse que uma das suas obras musicais preferidas seria um concerto de violinos de Chopin (do tempo em que foi secretário de Estado da Cultura), Santana respondeu que sim e que, desde então, até aprendeu a tocar piano, embora confessando que ainda não sabe tocar qualquer peça do famoso compositor e pianista.