A internacionalização d’”O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa”, um conceito da Comur — Fábrica de Conservas da Murtosa, que conta com 21 lojas em Portugal, arrancou em agosto e foi brindada com uma enchente de turistas que deixou os funcionários “sem mãos a medir”, como disse, em entrevista à Lusa, o administrador da empresa proprietária, a Valor do Tempo.

Vendem-se entre 400 a 500 latas por dia, afirmou Tiago Quaresma, referindo que ficou surpreendido com o conhecimento que muitos norte-americanos revelaram sobre o pescado português, nomeadamente a sardinha, talvez por os Estados Unidos serem o principal mercado da indústria conserveira portuguesa.

“Ficámos um pouco surpreendidos por ser tão pouco surpresa”, afirmou o empresário, acrescentando: “arriscaria dizer que causou mais espanto em Portugal, no início deste projeto, há uns anos, do que tem causado em Nova Iorque. Temos tido, com muita regularidade, clientes a entrar na loja [em Nova Iorque] a dizer que já estiveram nas nossas lojas em Portugal, e nem sempre em Lisboa e Porto”.

A “memória afetiva” dos norte-americanos com as conservas portuguesas, e a sardinha em particular, e o “enorme interesse” que estes têm revelado pelo produto justificaram a escolha de Nova Iorque como o primeiro ‘mergulho’ da sardinha em lata portuguesa em águas internacionais.

A escolha de Times Square, o espaço de Nova Iorque mais visitado pelos turistas, também não foi aleatória.

“Queríamos marcar um ponto, queríamos ser notados e isso já se tem constatado, com a adesão em peso da comunicação social local ao nosso conceito. O arrojo de irmos para uma localização de tanto valor acrescentado já está a compensar”, disse.

“Isto acontece, sobretudo porque estamos em Times Square. Podia haver outras localizações de igual impacto comercial, mas nenhuma outra nos garantia este entusiasmo mediático”, sublinhou.

A internacionalização do produto — que se traduz num investimento superior a quatro milhões de euros — começou com apenas as sardinhas, mas mais pescado português estará disponível a partir deste fim de semana nesta praça do tempo, com permanente animação.

Ainda assim, têm sido “centenas e, em alguns dias, milhares de pessoas” que têm visitado as lojas, com muitas delas a “fazerem compras de várias dezenas e até centenas de dólares em conservas”, nomeadamente norte-americanos de outros estados.

A loja começa já a preparar-se para o “pico” da procura que deverá decorrer entre o Dia de Ação de Graças e a passagem de ano, nuns 45 dias tradicionalmente frenéticos para o comércio e que prometem um verdadeiro ‘cardume’ de clientes.

Segundo Tiago Quaresma, é natural que mais lojas sejam abertas nos Estados Unidos, até porque o resultado está a ser superior ao mais ambicioso dos sonhos.

“O que queríamos validar em Nova Iorque, e validámos já, é que isto continua a funcionar, mesmo passando a fronteira”, indicou.

“A sardinha portuguesa é uma marca de todos e é isso que queremos com a presença em Times Square, que seja uma presença maior do que uma entidade privada e seja uma declaração de intenções de um país, porque este é provavelmente o produto com mais capacidade de penetração internacional que Portugal tem”, disse.

O empresário adiantou que gostaria de semelhante visibilidade para mais produtos das marcas que o grupo detém e que “assentam num legado da história e do património português e honram o passado e as tradições que o tempo conservou”, como o Museu do Pão, a Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, o Museu da Cerveja, as Queijadas Finas de Sintra ou os ovos-moles de Aveiro, entre outros.

Mas reconhece que os produtos alimentares frescos são mais difíceis de exportar, pois a qualidade que os torna únicos poderia ficar comprometida.

Por esta razão, pelas facilidades que apresenta, a nível logístico e de tamanho de loja, a filigrana é a que “estará mais pronta para voar”, considerou.