Gustavo Guerreiro foi abordado pela agência Lusa à entrada do Pavilhão Cidade de Viseu, onde desde segunda-feira estão a ser recebidos bens, quando se preparava para seguir viagem numa carrinha do clube Lusitano em direção ao concelho de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra.

Depois de cada viagem feita desde segunda-feira, regressa a Viseu com “o coração cheio”, mas também com alguma angústia: “É incrível como com tão pouco fazemos tanto e esse tanto não chega nem para metade”.

Até às 12:00 de hoje tinham já saído do pavilhão mais de 18 mil litros de leite, água e sumos, cerca de 1.500 quilos de fruta, 3.700 unidades de bolachas e cereais, 1.500 caixas de roupas, toalhas e calçado, quase uma tonelada de arroz e massa, e 2.600 unidades de produtos enlatados.

O vice-presidente da Câmara de Viseu, Joaquim Seixas, contou que, inicialmente, foi colocado à disposição o quartel dos bombeiros, mas rapidamente foi percetível que aquelas instalações eram pequenas para o tamanho da solidariedade de Viseu, tendo então a operação ficado centrada no pavilhão.

“Felizmente, em Viseu, não temos tido praticamente necessidade, tivemos só as situações de duas famílias desalojadas que foram tratadas de imediato, e o que nós fizemos foi ajudar aqueles que mais precisam noutros concelhos no distrito e até fora”, explicou.

Centenas de voluntários acorreram ao pavilhão. Uns separam roupas e bens alimentares, outros transportam-nos em carrinhas cedidas pelos clubes de Viseu para os concelhos de Carregal do Sal, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, Tondela, Vouzela e Oliveira do Hospital.

“Bens há, felizmente. Onde for necessário, nós fazemo-los chegar”, garantiu Tiago Freitas, técnico da autarquia que tem estado a coordenar esta operação de solidariedade.

Dentro do pavilhão, os bens estão minuciosamente separados. “Temos que ter as coisas assim todas organizadinhas porque, de repente, chegam aqui e pedem: um ‘mix’ de mercearia, um ‘mix’ de pequeno-almoço”, contou Ana Peres, que hoje de manhã estava responsável pela área da mercearia junto com Joana Almeida.

Com o cancelamento, durante estes dias, das atividades do programa municipal Atividade Sénior, foram os seus técnicos a tomar as rédeas desta operação. Sempre presentes, têm tido a companhia dos idosos com quem costumam praticar desporto e também de estudantes e de outros munícipes.

“Perceberam o porquê de não terem aulas, porque os próprios técnicos do programa atividade sénior estão implicados na organização e na logística do voluntariado, e vieram todos em peso ajudar”, contou Ermelinda Afonso.

Segundo a técnica de atividade física, todos têm ajudado como podem: “se não conseguem carregar caixas, separam a roupa”.

Fátima Lopes, de 65 anos, fez questão de ajudar os seus “meninos (técnicos do Atividade Sénior)”, depois de ter chorado a ver as notícias na televisão.

“Ontem (quarta-feira) vim entregar roupa, perguntei se era preciso ajuda, disseram-me que sim e eu fiquei com todo o gosto. As pessoas perderam familiares, animais, sente-se uma revolta muito grande e esta solidariedade é a única coisa que compensa”, afirmou.

Durante a manhã, a Lusa assistiu a carros constantemente a chegarem ao pavilhão com as malas cheias, de onde saiam sacos inchados de tanta roupa, bens alimentares e até rações para animais.

Catarina Amaral foi uma dessas pessoas. Depois de ter feito um apelo na rede social Facebook, recolheu donativos durante dois dias em sua casa e hoje entregou-os aos voluntários.

“Ao vermos as imagens, os relatos, todos nos sentimos impotentes. Mas depois é preciso tentar digerir tudo o que aconteceu e ver qual é a forma que temos de colaborar”, considerou.

A sua filha, de seis anos, olhava para a televisão e chorava, querendo também ela ajudar as vítimas destes incêndios.

“Quando as crianças sentem o que está a acontecer e se sentem motivadas para dar os seus brinquedos e as suas roupas, o mínimo que todos podemos fazer é contribuir com tudo o que pudermos”, frisou.