O antigo chefe da campanha presidencial de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos da América, deverá entregar-se ainda hoje às autoridades, avança a imprensa norte-americana.

Escreve o Washington Post que a entrega tem a ver com acusações ligadas à investigação sobre a alegada coordenação entre a campanha de Trump e a influência russa nas eleições do ano passado.

Diz o New York Times que Manafort e Rick Gates, um antigo parceiro de negócios, são as primeiras pessoas a ser acusadas numa investigação que está a ser conduzida pelo conselheiro especial Robert Mueller.

No entanto, é a CNN quem avança que Paul Manafort se vai entregar ainda durante esta segunda-feira. Todavia, as acusações que recaem sobre estes dois homens não são ainda claras. A investigação de Robert Mueller está a debruçar-se sobre alegados conluios, mas também lavagem de dinheiro e evasão fiscal.

Esta manhã, Manafort entrou nas instalações do FBI, a polícia federal de investigação dos Estados Unidos, acompanhado pelo advogado.

Segundo o New York Times, o nome de Rick Gates surge em documentos de empresas sediadas em Chipre através das quais Manafort terá recebido pagamentos provenientes da Europa de Leste.

No documento da acusação a Manafort, o tribunal descreve o estilo de vida do ex-chefe da campanha de Trump, dizendo que Manafort não pagava impostos sobre estes rendimentos, tendo gasto milhões de dólares em bens de luxo, para ele e para a família, através de contas off-shore. Terá alegadamente usado esse dinheiro também para comprar propriedades nos EUA, que usava como garantia para empréstimos na ordem dos milhões de dólares, obtendo, desta forma, dinheiro nos Estados Unidos, sem pagar impostos.

"No total, mais de 75 milhões de dólares [64 milhões de euros] passaram pelas contas offshore. Manafort lavou mais de 18 milhões de dólares [15,5 milhões de euros], que foram usados por ele para comprar propriedade, bens e serviços nos Estados Unidos, rendimento que escondeu do Tesouro dos Estados Unidos, do Departamento de Justiça e outros.", pode ler-se na acusação de Robert S. Mueller, III.

Antes de ter entrado para a gestão da campanha presidencial de Trump, em junho de 2016, Manafort mantinha várias ligações empresariais com a Ucrânia, onde, explica o Guardian, representava figuras pro-Moscovo de relevo.

Ligações que levaram a pedidos para que abandonasse a campanha de Trump, apenas cinco meses depois de o ter assumido. Porém, continuou ligado à campanha de Donald Trump, tendo feito parte do comité de tomada de posse do atual presidente norte-americano, continuando a ser presença assídua na Casa Branca.

Mas antes de junho, já Manafort dava uma ajuda a Trump. Juntou-se a Trump em Março do ano passado, tendo-o acompanhado na luta pelo apoio do Partido Republicano. Partido de que faz parte há muito, tendo trabalhado nas campanhas de Gerald Ford (1976), Ronald Reagan (1980) e George HW Bush (pai), sem esquecer John McCain, em 2008.

Em setembro, soube-se que Manafort esteve sob escuta, por ordem judicial secreta, antes e depois das presidenciais de 2016. As escutas telefónicas permaneceram até ao início de 2017, quando se sabia que Manafort conversava com o atual presidente, destaca a CNN. Manafort foi chefe da campanha de Trump entre junho e agosto de 2016.

Manafort foi colocado sob investigação em 2014, devido à sua atuação em grupos de consultoria de Washington a favor do então partido no poder na Ucrânia. O processo foi suspenso em 2016, por falta de provas, mas acabou por ser retomado e permaneceu até ao início de 2017.

O retomar das investigações estava relacionado com uma investigação do FBI sobre contactos entre a campanha de Trump e agentes russos, segundo fontes da CNN.

Em agosto, um porta-voz do antigo diretor de campanha de Donald Trump disse que agentes da polícia federal fizeram buscas numa das residências do consultor político. Manafort cooperou com os agentes, como tem feito “consistentemente”.

Manafort, que nega qualquer irregularidade, aceitou colaborar com as comissões do Senado que investigam o caso, tendo entregado documentos que lhe foram pedidos.

Segundo o jornal Washington Post, as buscas foram realizadas na madrugada de 26 de julho, na residência de Manafort em Alexandria, Virgínia, cerca de 11 quilómetros a sul da capital federal, Washington D.C.

Nas buscas foram apreendidos documentos e outros materiais, segundo fontes próximas da investigação citadas pelo jornal.

A Casa Branca escusou-se até ao momento a fazer qualquer comentário.