O turismo é vital para este espaço ártico, povoado por alces, ursos e lobos. Mas os habitantes locais, especialmente os sámis, também conhecidos como lapões, os criadores de renas nativos, temem os efeitos destas invasões no seu modo de vida e no meio ambiente de uma região que está na linha de frente do aquecimento global.

O fluxo de visitantes não para de crescer a cada ano. Em 2018, foram 2,9 milhões de reservas nos hotéis face a 2,2 milhões em 2010.

"Os turistas franceses preferem trenós puxados por cães e longas caminhadas, os britânicos interessam-se pelas motos de neve e os asiáticos preferem as auroras boreais", explica Sanna Kärkkäinen, que administra o escritório de turismo de Rovaniemi.

É nesta cidade que se situa o "Santa Claus Village", um parque de diversões onde os turistas passeiam em motos de neve ou trenós puxados por renas, refugiam-se do vento em castelos de gelo, compram produtos nas lojas ou provam vinhos quentes com canela. Tem sido assim desde a década de 80, quando as autoridades locais fizeram desta a casa oficial do "Pai Natal".

Estes têm sido novos mercados lucrativos para as operadoras de turismo. O número de turistas chineses quadruplicou desde 2015, chegando a 45.000, e triplicará na próxima década, graças à multiplicação dos voos da companhia aérea Finnair entre Ásia e Europa, via a capital Helsínquia.

Tian Zhang, que vive na Finlândia há 17 anos, fez o maior investimento estrangeiro no setor hoteleiro local depois de constatar, junto com outros amigos chineses, que faltavam quartos de hotel em Rovaniemi. O Nova Skyland Hotel, obra sua, foi inaugurado em novembro de 2017 e os seus 33 quartos geralmente estão ocupados.

Os seus clientes vêm de todo o mundo, espanhóis e ingleses antes do Natal, "russos em janeiro e chineses no ano novo chinês", explica Zhang. As estatísticas mostram que os chineses gastam em média três vezes mais do que outros visitantes de outras nacionalidades. O governo de Pequim, ansioso para estabelecer a sua presença no Ártico, publicou em 2018 um relatório incentivando as empresas chinesas a instalarem-se na região.

Os países do Médio Oriente também têm mostrado um interesse crescente. "Esta semana, tivemos o primeiro voo direto da Turkish Airlines a partir de Istambul, o que abre Rovaniemi para outros 20 países", comemora Sanna Kärkkäinen.

Os desafios e as vantagens do turismo de massas

O turismo reduziu o desemprego em Rovaniemi ao seu nível mais baixo em 30 anos. Contudo, o seu crescimento tem preocupado a população local, que ama a sua tranquilidade e o seu relacionamento privilegiado com a natureza.

A imprensa publica regularmente artigos sobre turistas que deixam lixo debaixo dos pinheiros ou quanto a hordas barulhentas alojadas em alojamentos locais da plataforma Airbnb e que perturbam as noites da cidade.

Os sámis, presentes há três milénios nas regiões inóspitas do Ártico na Finlândia, Noruega, Suécia e Rússia, encaram este estilo de turismo industrial com apreensão."Quase todos os dias há pessoas a perguntar 'onde estão os xamãs ou as bruxas sámis'", reclama Tiina Sanila-Aikio, presidente do parlamento sámi da Finlândia. "É uma falsa lenda, criada e alimentada pela indústria do turismo", aponta.

Alguns representantes da comunidade acusam os operadores turísticos de se passarem por sámis ou de vender itens ou produtos, atribuindo-lhes poderes mágicos, apesar de, em 2018, o parlamento sámi ter publicado recomendações para um comportamento turístico "ético e responsável".

Os sámis também censuram os cães de trenó, tão queridos pelos turistas, que assustam os seus rebanhos, bem como as centrais hidroelétricas e a indústria mineira.

O isolamento geográfico da Lapónia e as longas distâncias interiores apenas percorriveis pelo ar aceleram o efeito de estufa numa região que, segundo os cientistas, regista uma taxa de aquecimento duas vezes mais rápida que a média mundial. Os invernos estão a ficar também mais curtos. No ano passado, as operadoras tiveram de desistir de certas atividades devido à falta de neve em novembro.

"Somos muito dependentes do avião", admite Satu Loiro, do conselho regional da Lapónia finlandesa, que planeia fazer com que os turistas paguem de uma forma ou de outra para limitar as emissões e financiar o transporte público.