Como já é costume, o programa da HBO fez o público rir. Desta vez, John Oliver conseguiu também arrancar gargalhadas do 14º Dalai Lama, perseguido pela China e exilado na Índia desde 1959. Foi para lá que o apresentador norte-americano viajou, para uma conversa animada com a figura máxima viva do budismo tibetano e a quem chamou de "popesident", pelo facto de ser o chefe espiritual e, ao mesmo tempo, líder político do Tibete no exílio.

A entrevista começou, como não podia deixar de ser, com o comediante a fazer rir o líder espiritual, quando se cumprimentaram em tibetano: “A minha pronuncia é boa? Em minha defesa, só comecei a aprender tibetano há 40 segundos atrás”. Mas mesmo com gargalhadas, ficou o espaço para as afirmações mais sérias. Falou-se da opressão chinesa ao Tibete, das centenas de monges que se imolaram nos últimos anos e da possibilidade de Tenzin Gyatso (o seu nome verdadeiro) ser o último Dalai Lama.

“Acredita que pode ser o último Dalai Lama?”, perguntou o apresentador. O líder, surpreendentemente, respondeu: “sim, é possível”. Mas, quando foi questionado sobre a possibilidade de Pequim escolher o seu próprio Dalai Lama, rematou: “o nosso cérebro geralmente tem a capacidade para perceber o senso comum. Mas, aos dirigentes chineses parece que lhes falta essa parte do cérebro”.

“Eu sou um demónio com cornos”, uma referência ao facto de líderes e cidadãos chineses o terem chamado várias vezes de demónio na imprensa internacional.

É sabido que a relação entre a China e o líder espiritual do Tibete não é fácil.

Quando se olha para muitas das notícias em que ambos são protagonistas, a tensão é clara. Por exemplo: em junho de 2016, o ministro dos negócios estrangeiros chinês lançava um comunicado em que bania todos os conteúdos relacionados com Lady Gaga. O motivo? Poucos dias atrás, a artista tinha-se se encontrado com o Dalai Lama. A partir daquele momento, a cantora figurava numa lista negra, por onde já passaram artistas como Katy Perry ou os Backstreet Boys.

"Estou feliz por estar aqui e criticar a China consigo. Até porque as consequências para mim não são tão graves como são para si", brincou o comediante. Contudo, entre risos, o Dalai Lama não deixou barato e respondeu: "agora também é um demónio como eu".

Em protesto contra a opressão chinesa sobre a região, perto de 150 tibetanos imolaram-se desde 2009. São imagens que nos últimos anos têm chocado os espectadores, mas que não têm sido suficiente para fazer com que a China mude a forma de atuação sobre o Tibete.

Sobre isso, o líder espiritual responde: “se eu disser que é errado, então a família de quem se imolou vai pensar que o seu parente fez algo com que o Dalai Lama não concorda". "Do ponto de vista budista, não é certo, mas o mais correto é o meu silêncio", acrescentou.

Afirmações mais sérias da parte do "popesident" que foram amenizadas com as suas próprias gargalhadas e com as piadas que o apresentador da HBO ia lançando. De tal forma que a entrevista não terminou sem um momento caricato: se há décadas atrás o presidente norte-americano Franklin Roosevelt ofereceu um relógio ao Dalai Lama, John Oliver presenteou-o com algo mais moderno: uma calculadora de pulso, que, como disse o apresentador, é "tão moderno quanto seria nos anos 80".