O futuro do planeta visto por quem manda na maior empresa grossista do mundo, na fábrica de brinquedos de plástico Lego e na Unilever ou por ambientalistas como a neta de Cousteau marcaram hoje um dos palcos da Web Summit, em Lisboa.

Kathleen MacLaughlin, responsável pelo gabinete de sustentabilidade da Walmart, contou que a multinacional norte-americana foi uma das primeiras a preocupar-se com a pegada ecológica, numa altura em que outras grandes empresas continuavam insensíveis às questões ambientais.

Com onze mil lojas espalhadas pelo mundo, a empresa norte-americana começou em 2005 a inquietar-se com o impacto do seu negócio no meio ambiente, segundo Kathleen MacLaughlin, durante a sua intervenção no palco Planet Tech

Kathleen MacLaughlin revelou que esta aposta acabou por desvalorizar a empresa em bolsa, mas esses tempos acabaram: “As ações desceram logo 20% a 30% no primeiro ano quando introduzimos algumas medidas, mas entretanto já valorizaram”.

A responsável recordou que foi a opinião pública que motivou a Walmart a apostar na sustentabilidade e que a empresa ganhou com essa mudança, porque reduziu os seus custos, assim como os desperdícios (menos 77%) e ainda melhorou a qualidade dos produtos que vende.

“Desde a pasta de dentes até aos detergentes, hoje os nossos produtos têm menos 98% dos químicos indicados como menos recomendados pelos especialistas. Em muitos casos há substitutos dos produtos químicos que são igualmente eficazes. Claro que tudo isto exige trabalho e tempo, mas existem soluções”, acrescentou, anunciando que atualmente 26% das energias que usam são renováveis.

“Nada disto seria possível sozinho. Exige a colaboração de todos e a tecnologia tem um papel muito importante”, defendeu.

Durante toda a manhã, o palco da Planet Tech, um dos muitos espaços da Web Summit, que está a decorrer em Lisboa, recebeu diversas personalidades convidadas para discutir o futuro do planeta, o impacto das empresas e a importância das ações individuais.

Para Alexandra Cousteau, neta do oceanógrafo Jacques-Yves Cousteau e ativista ambiental e responsável pela “Good Impact Foundation, é preciso olhar para as ações individuais das pessoas: “Ouço as empresas falar nos seus planos para reduzir o impacto ambiental, mas é preciso também pensar no que cada um de nós pode fazer”.

“O futuro é o resultado das nossas escolhas, que não têm de ser um sacrifício, mas sim uma oportunidade para viver com maior qualidade de vida e em comunidade”, disse Alexandra Cousteau, lamentando que se continue a olhar para o futuro e a ver um mundo em que haverá “mais plástico do que peixes no oceano”.

A poluição provocada pelo plástico continua a ser uma das maiores preocupações dos ambientalistas e foi um dos temas que juntou quatro personalidades no palco da Planet Tech: a atriz Rosario Dawson e a ambientalista Dianna Cohen, que conversaram durante vinte minutos com o responsável pela empresa Lego, Tim Brooks, e o representante da Unilever, Mark Kaplan.

As mulheres, sentadas lado a lado num sofá, defenderam a necessidade de acabar com a produção de plástico e alertaram para o impacto no meio ambiente e na saúde, enquanto os dois homens, sentados em bancos, tentavam defender o “vilão”.

Desde 1950 foram produzidos oito milhões de toneladas de plástico e quase 80% acabou a poluir o meio ambiente, segundo dados fornecidos pelo apresentador do painel.

“O material não é necessariamente o vilão, mas sim a forma como o usamos”, defendeu Tim Brooks, da Lego, explicando que a empresa inspira crianças desde 1958 a serem os construtores de amanhã.

A Lego é responsável pela produção de sete mil toneladas de plástico por ano, mas Tim Brooks diz que, ao contrário do que acontece com muitos outros produtos de plástico, os legos não deixam de funcionar ou são descartáveis.

A segunda edição do Web Summit, que termina quinta-feira, conta com a participação de 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.

A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa por três anos, com possibilidade de mais dois de permanência na capital portuguesa.