“A barreira mais difícil está ultrapassada”, garante à agência Lusa, contando que foi já este ano que recebeu da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP) a notícia de que estava inscrito como atleta luso na Federação Internacional de Luge (FIL).

Já tinha tentado pouco antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, disputados em Socchi, na Rússia. “Sabia que já era muito em cima dos Jogos, mas contactei o Comité Olímpico de Portugal e contei a minha história. Recebi informação um mês depois e até era sobre outra modalidade”, conta.

A história de Hugo e do luge, um pequeno trenó sobre o qual se atingem os 120 km/hora, começou depois de ver uma prova na televisão quando chegou ao Japão, para onde foi viver por ‘culpa’ do casamento com uma japonesa em Lisboa.

“Vi e gostei muito, perguntei logo à minha mulher onde se podia fazer aquele desporto. Ela disse-me que era possível praticar luge numa pista a dois minutos de casa”, explica Hugo Alves, que vive na cidade de Sapporo, na ilha de Hokkaido.

Antes desse título teve, “a troco de uma quantia irrisória”, o primeiro contacto a sério com o luge, e foi nesse dia que conheceu um “velhote” — o mesmo que um ano mais tarde acabou por lhe disponibilizar um bom trenó — que o convidou a treinar regularmente.

“Habituei-me muito bem. Na primeira competição mais a sério fiquei em terceiro lugar, com um trenó dos piores que havia”, conta, lembrando uma promessa que lhe foi feita nessa altura por responsáveis da modalidade a nível regional: “Para o ano, se tudo correr bem, damos-te um trenó como deve ser”.

Foi depois de receber o trenó do tal velhote, que afinal fazia parte da federação regional, que se tornou campeão da ilha de Hokkaido. Fora da pista continuou a “trabalhar” para poder competir por Portugal.

“O meu pai falou-me de uma notícia que viu em Portugal a dizer que não havia muitos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos de Inverno Socchi2014. Pesquisei, vi quem era o chefe de missão, mandei logo um e-mail a contar a minha história”, refere, acrescentando que entretanto foi contactado.

Ultrapassadas as burocracias, Hugo Alves prepara-se finalmente para a estreia como atleta português, que vai acontecer em fevereiro na Coreia do Sul, num palco único: a pista que daqui a menos de dois anos vai receber competições dos Jogos Olímpicos Pyeongchang.

“A dimensão das provas nas quais tenho participado não tem nada a ver com os próximos desafios”, reconhece o professor de inglês e português, natural da Madorna, no concelho de Cascais.

Para a deslocação a Pyeongchang, onde participará na oitava das nove provas do circuito mundial de luge, Hugo teve de arranjar cerca de 2.000 euros. No futuro espera contar com apoios do contrato-programa de preparação olímpica.

“A parte financeira é algo que ainda não sei como irei resolver” assume. “Vou continuar a pensar que tudo se vai resolver e que estarei nos Jogos Olímpicos, sempre pensei assim, mesmo quando toda a gente dizia que eu era maluco”, acrescentou.

Hugo Alves é um dos atletas nos quais Portugal aposta para os próximos Jogos, para os quais já está qualificado o esquiador Arthur Hanse, que já marcou presença em Socchi.

“O Hugo Alves já está inscrito na federação internacional da modalidade e é uma das hipóteses para os Jogos Olímpicos”, disse à Lusa o diretor técnico nacional Sérgio Figueiredo, assumindo que o objetivo português “é qualificar seis atletas”.

O trenó, em que os atletas competem deitados de barriga para cima, pode custar até 5.000 euros e, segundo Hugo Alves, todo o equipamento necessário para a modalidade “é caríssimo e não se compra nas lojas”, sendo algum dele fabricado por apenas uma marca.

Quando a época terminar, daqui a umas semanas, Hugo Alves vai continuar a fazer “treino físico e de equilíbrio” até outubro, altura em que voltará às pistas para continuar a amealhar pontos que lhe permitam para tentar ser o primeiro atleta português a competir numa prova olímpica de luge.