"A violação da constituição causou a crise. Não dar posse a membros do Governo é sabotar a ação do Governo", disse Ramos-Horta, criticando o atual chefe de Estado.

Ramos-Horta falava no encerramento da sua campanha para as presidenciais, em Díli, onde defendeu uma auditoria ao Fundo Covid-19 e ao programa da cesta básica, entre outras.

O comício reuniu largos milhares de militantes de todos os postos administrativos do município da capital e uma hora depois do arranque ainda continuavam a chegar colunas de carros, camiões e motas, oriundos de vários pontos da cidade.

Ramos-Horta escolheu encerrar a campanha hoje, um dia antes da data máxima fixada pela lei. O sorteio ditou que Tasi Tolu calhava a Lú-Olo na quarta-feira e, por isso, José Ramos-Horta preferiu encerrar no mesmo local, o maior recinto da capital, um dia antes.

Num discurso aplaudido várias vezes, Ramos-Horta recordou o seu papel para ajudar a resolver a crise de 2006-2007 e insistiu nas críticas às ações do Presidente, Francisco Guterres Lú-Olo, incluindo a decisão de não dar posse a uma dezena de membros do Governo.

Em pé, por trás de um pequeno pódio de plástico transparente, no palco do maior comício da campanha, agradeceu o apoio que a sua campanha tem tido, quer de várias forças políticas e movimentos quer, particularmente, de cidadãos de todo o país.

"Em português diz-se 'o povo amado', em espanhol o 'pueblo amado'", começa a dizer, com Xanana Gusmão a chegar-se ao microfone e a acrescentar: "e em inglês diz-se 'i love you".

Antes, Gregório Saldanha, do comité 12 de novembro e presidente do recém-criado e Patifor voltou a pedir o voto em Ramos-Horta, que considerou essencial para "a mudança necessária, em prol do desenvolvimento" e para resolver a crise no país.

"O Estado e o país enfrentam uma situação muito complicada, e isso acontece quando não se respeita a constituição. Precisamos de um líder, de um Presidente que consiga resolver os problemas e garantir o desenvolvimento e o apoio necessário ao povo", afirmou.

Avelino Coelho, jurista e líder do Partido Socialista Timorense (PST) também defendeu um voto em Ramos-Horta como "garante da reposição da ordem constitucional, para acabar com esta crise económica, política e social".

"Provamos que tem havido violação das normas constitucionais. Não respeitam a constituição. E por isso há que dar apoio a Ramos-Horta, líder com experiência, diplomata com experiência, líder consensual", afirmou.

"E não votem apenas por causa do Ramos-Horta, ou de Xanana Gusmão ou dos seus aliados. Votem na determinação de uma sociedade nova, uma sociedade que se preocupe com o povo. Se não, estão a votar para perpetuar as práticas de violação da constituição", disse.

Mais do que os discursos políticos, o comício foi uma festa, com o animador de serviço, Xanana Gusmão, a fazer de tudo um pouco, desde dançar, a explicar aos bombeiros onde tinham que regar para refrescar a multidão e até a distribuir fruta e amendoins aos apoiantes.

Xanana Gusmão chegou ao recinto, em pé, montado no carro descapotável de José Ramos-Horta que o próprio conduz, rodeados de centenas de apoiantes que os conduzem até ao palco principal.

As tarefas dos dois dividem-se quase de imediato: Ramos-Horta como 'influencer', a saudar em Tasi Tolu, mas também ativo ao telemóvel, enquanto Xanana Gusmão dança no palco e bate palmas ao som do hino do CNRT.

Organiza a posição das bandeiras na multidão, para evitar que tapem as imagens dos diretos das televisões, direciona o camião de bombeiros que em jeito de 'rave' vai regando a multidão e vai conduzindo pormenores do comício.

"Xa Xa Xanana, Xa Xa Xanana", ouve-se várias vezes, entre a multidão. O recinto em si mede mais de 47 mil metros quadrados, mas na prática a zona reservada ao comício é cerca de um terço disso, com dois palcos -- um para a grupo musical -- e outro para os VIP, e uma tribuna de honra.

A concentração começa muito antes do comício, com grupos de apoiantes a reunirem-se em vários pontos da cidade, antes de viajarem para Tasi Tolu.

Um encontro político onde a música tem sempre papel de destaque, com um grupo musical completo e três vocalistas.

"O senhor contente vota no Ramos-Horta, o senhor contente vota no Ramos-Horta", canta a animadora, Ângela Sarmento, MC de serviço aos comícios, para aquecer os ânimos.

A campanha termina quarta-feira e a votação decorre no sábado.

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