É a personagem mais influente na presidência Trump. Stephen Bannon foi nomeado por Trump para o cargo de Chefe de Estratégia da Casa Branca e para um dos lugares no determinante Conselho Nacional de Segurança dos EUA. É o autor do decreto presidencial anti-imigração.
Bannon entrou na campanha de Trump quando liderava o discurso contra o sistema através do website Breitbart News. O Breitbart, que se prepara para entrar na Europa, rejeita ser um inventor de notícias falsas mas é inquestionável que o seu ativismo conduz à leitura orientada dos factos.
O Breitbart.com é uma plataforma digital que se declara pela “alt-right”. Essa preferência pela alternativa radical à direita aparece em tudo o que é publicado e que The New York Times analisou e definiu como um sítio de pessoas, designadamente jovens, que acreditam na supremacia branca, que se opõem à imigração, ao feminismo e ao multiculturalismo, e que são ásperos com judeus, muçulmanos e outros grupos étnicos, que insultam nas redes sociais.
Nascido de uma família católica de origem irlandesa, Bannon insiste nas suas origens modestas, foi oficial de marinha ao longo de quatro anos, mas antes de chegar à banca em Wall Street, frequentou escolas de prestígio como a Georgetown University e a Harvard Business School.
O jackpot na vida de Bannon surgiu nos anos 90, quando, ainda na Goldman Sachs, decidiu investir numa série de televisão que estava a ficar sem produtor: Seinfeld. Aposta em cheio. As sucessivas temporadas, com mais de 180 episódios, rendem milhares de milhões de dólares em direitos de transmissão por todo o mundo. Seinfeld e os amigos são ferozmente democratas, Bannon já então era contra o sistema, mas todos fazem fortuna com a série. A incursão de Bannon pelo audiovisual continuou com um filme promocional sobre Sarah Palin, no apogeu do movimento ultra que tomou a etiqueta de tea party.
Em 2009 surgiu o Breitbart, website fundado por Andrew Breitbart, um protegido de um blogueiro que se tinha tornado guru mediático das direitas nos EUA, Matt Drudge. Andrew morreu repentinamente em 2012 e Stephen Bannon tomou a liderança do Breitbart. O que se apresentava como uma plataforma jornalística depressa passou a ser um website combativo, militante, provocador, com ideologia radical à direita. No verão passado, Bannon, em entrevista à Mother Jones, descreveu o Breitbart.com como “a platform for the alt-right” [uma plataforma para a alternativa de direita]. Já era, de facto, uma plataforma para a direita fora do sistema. Com grandes meios, muitas histórias, mas com os factos de forma convenientemente manipulada.
O Breitbart tem sido repetidamente acusado de propagar fake news, notícias falsas, como quando fez manchete a proclamar que “uma multidão com mais de 1000 pessoas que gritavam 'Allah Akbar' incendiou uma histórica igreja na Alemanha”. Destaques assim falsos, com evidente intenção orientada, tornaram-se frequentes. A propaganda racista e contra a imigração tornou-se tema dominante e transitou, ampliada, para furiosas publicações nas redes sociais. Numa outra manchete leu-se que “Os jovens muçulmanos no Ocidente são uma bomba-relógio contra nós todos”. O Breitbart passou a ser força dominante na conversa online, a inflamar o sentimento radical de direita. Contra toda a classe política.
Quando toda a imprensa dos Estados Unidos, designadamente a mais conservadora e republicana, se levantou em oposição ao que se sabia da campanha presidencial de Trump, o Breitbart.com de Bannon disparou com a cobertura pró-Donald e hostil a Hillary. Nos quadros da Score, o Breibart apareceu em outubro com mais de 19 milhões de utilizadores. Cresceu o número de apoiantes de Trump que percecionam o mundo pelo que veem e leem no Breitbart.com. Com os Clinton, os Obama e até os Bush como alvos privilegiados. O próprio Trump diz que encontra no Breitbart.com tudo o que precisa de saber sobre o mundo. Tanto o presidente como o Breitbart.com nunca estão interessados em ouvir pontos de vista diferentes dos seus.
“Estão a criar uma atmosfera tóxica”, indigna-se num mail Jane Eisner, editora do Forward.com, em Nova Iorque.
Há uma ideia dominante: eles, Trump e Bannon, a sua cabeça pensante à direita, nem querem saber o que pensa a gente que não pensa como eles.
Bannon já disse que lhe agrada ver-se como um Darth Vader, a desmontar a engrenagem dos adversários sem eles saberem como. Agora é o homem que o presidente dos EUA escuta sempre e em quem crê cegamente.
O Breitbart.com trata de entrar na Europa continental e propõe-se montar a sua plataforma em Paris. O lançamento da edição em francês está em fase de preparativos, mas ao contrário da intenção inicial de Bannon, já não deve ser antes da eleição presidencial francesa.
A sombra do falso jornalismo como modo de propaganda anda por aí, avança. Por agora, Bannon é o dono do castelo na corte de Donald Trump.
Também a ver:
Bannon mostrado assim pelo The Guardian.
A tolerância começa em cada um de nós. Esta ideia marcou os spots publicitários no intervalo da final do Super Bowl. Foram spots políticos. Como por exemplo este, da Airbnb. Tal como estão a dizer a Apple, Facebook, Microsoft, Google, Twitter e as outras, a diversidade humana é a essência da sua existência. O show da final em Houston foi mesmo um espetáculo.
António Lobo Antunes deve gostar de saber como o seu Os Cus de Judas continuam, 38 anos depois, a ser um livro favorito, nas diferentes traduções publicadas pelo mundo. Vale ler a resposta à quinta pergunta neste inquérito do The New York Times.
Iniciativa checa contra as fake-news: fica para ver que eficácia pode ter este serviço frente às campanhas de “informações” enganosas.
Os bastidores de uma polémica ilustração que fez capa na Der Spiegel.
A capa da Time com "the great manipulator"
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