Esta pequena maravilha trata-se da adaptação do clássico da Broadway ‘Annie’, encenada por Martim Galamba. É a primeira peça de teatro da Music Theater Lisbon (MTL), e está em cena nesta época natalícia no Auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa.

Consta que está praticamente esgotada, mas ainda com alguns lugares disponíveis, e é uma adaptação em português com música ao vivo, com oito atrizes e três músicos.

Nesta versão adaptada do clássico, a história mudou um pouco, tendo em conta que todo o elenco é composto por mulheres, umas mais velhas, outras mais novas, e até a própria Annie não é bem uma criança, mas sim uma adolescente interpretada por Lily Arriaga. Apesar disso, o talento de cada uma é ao nível de qualquer musical norte-americano ou londrino, fazendo o público quase imaginar-se a andar pelas ruas de Nova Iorque dos anos 30, descritas nas canções, no cenário simples, mas inteligente e na tradução que, sendo complicada como em qualquer musical, se mantém fiel ao espírito do original.

O elenco mostra o seu valor através da multiplicidade de papéis que interpreta. Exceto a protagonista, que permanece sempre no papel da órfã Annie, as restantes atrizes vão-se revezando entre diferentes personagens, encarnando todo o tipo de personalidades, sotaques, géneros e guiões. Ao todo, o texto conta com 22 personagens, mas só oito artistas em palco, que nos chegam a fazer acreditar que a órfã de uma cena e a milionária da cena seguinte não são fruto do esforço da mesma pessoa.

Já a música ao vivo assume um papel essencial nesta encenação, algo que nem sempre se encontra em musicais interpretados em Portugal. A banda tem um número de músicos semelhante ao de sucessos recentes apresentados também em Lisboa, como as adaptações de Avenida Q ou de Chicago. Esta característica acrescenta complexidade e riqueza às interpretações, tornando o espetáculo mais imersivo e valorizando o trabalho de todos os envolvidos. 

Quanto à cenografia e adereços, camas de campanha, uma boneca, lençóis, cartazes, algum mobiliário e um guarda-roupa surpreendentemente completo bastaram a Martim Galamba para nos colocar no imaginário de ‘Annie’ e num musical que ficou em tudo semelhante aos da Broadway, até na despedida final quer pelas atrizes quer pelos músicos. Se a MTL consegue fazer aquilo num auditório no Lumiar, poderá ser entusiasmante imaginar-se o que a espera quando conquistar maiores voos em palcos mais importantes.

A produção original de Annie nasceu em Nova Iorque, em 1977, e já foi adaptada para português por diversas vezes, com orçamentos mais robustos e em salas maiores. Porém, não sei se alguma vez esteve no Lumiar, nem com esta proximidade da Broadway que, mesmo tendo uma história com algumas diferenças, nos transporta por umas horas para Nova Iorque.

Quando saí disse: “parece que uma fagulha da Broadway caiu no Lumiar”. Cada pessoa fará a sua interpretação, mas a magia dos musicais é mesmo assim, e este é mesmo de se tentar ir ver.