Todos estamos familiarizados com histórias como esta, possivelmente o leitor já a vivenciou. Duas pessoas com muitas diferenças apaixonam-se. No início, a grande maioria dos amigos duvidaram que a situação viesse a durar mais do que dois meses, mas aquilo vai-se aguentando um ano, dois anos, três anos. Há ali uma pequena desavença no quarto ano, porque um quer estabelecer um compromisso escrito e o outro não quer dar esse passo, mas inicialmente isso é varrido para debaixo do tapete e não os catapulta para o fim da relação.

Entretanto, apesar do notório desvanecimento da paixão, a pandemia adia qualquer conversa profunda sobre o futuro da vida a dois. Chegados ao sexto ano de relação, ambos sentem que o outro não os valoriza decentemente. O fim da prisão do confinamento e a vontade de verem outras pessoas contribuem para que o amor acabe. Para além do círculo próximo dos dois, ninguém sabe muito bem quem é que acabou com quem. Mas todos, não só os que viram a relação como condenada à partida, concordam que a reconciliação é impossível.

Consumada a separação, cada um reagiu ao fim do namoro à sua maneira. Ela resguarda-se, faz uma pausa para rever as suas prioridades e muda o corte de cabelo. Comunica aos amigos que fez tudo para salvar a relação, que se dividem entre os que acham que ela estava farta da monotonia e sabotou a estabilidade e os que julgam que fez muito bem em libertar-se daquela relação tóxica em que já não tinha voz. Ele adota outra postura. Diz aos seus bros que ela o traiu e que devem expulsá-la de todos os grupos de Whatsapp. Reserva dois meses para a fase de promiscuidade, fazendo-se a toda a gente que lhe apareça à frente. Contudo, só está interessado em encontros pontuais e convence-se de que só poderá ser ele próprio se viver sozinho.

Porém, numa semana fria de inverno, ele volta de uma viagem com os amigos e sente-se solitário ao adormecer. Conclui que está a perder o chão, que não é propriamente autossuficiente e, de um dia para o outro, deixa de dizer aos outros que está bem sozinho. Volta a mandar-lhe mensagens, algumas directas, outras através de intermediários, colocando a hipótese de uma reconciliação, não de forma totalmente clara, para não enfrentar a censura dos amigos que já estavam convencidos de que ele estava melhor solteiro.

Ela mostrou-se disponível para falar e quer marcar um café, no entanto, é certo que desta vez exigirá mais e melhor. A questão é: quererá ela voltar a envolver-se com quem brincou com os seus sentimentos? E ele, estará disposto a mudar o que é só para não ficar só? E, se realmente reatarem, os amigos do casal não poderão deixar de fazer uma pergunta: se era para isto, porque é que tivemos de vos ouvir a dizer horrores um do outro? Enfim, agora ficou awkward.