A sondagem esta semana no diário ABC mostra que uns quatro milhões de eleitores estão a mudar o voto. Pela primeira vez, o partido Ciudadanos, de Albert Rivera e da estrela que desponta no firmamento político espanhol, Inês Arrimadas, aparece na frente: 6,4 milhões de intenções projetadas de voto (26,2%) e previsão de 86 a 90 deputados, num parlamento com 350 lugares.

O PP cai para segundo lugar em votos, seis milhões, mas mesmo assim maior número de deputados, 97 a 101, na projeção da GAD3 para o ABC. O PSOE surge em terceiro lugar, com 5,9 milhões de votos e 93 a 97 deputados. Podemos cai para o quarto lugar, com 3,5 milhões de votos (14,7%) e 42 a 44 deputados.

Na prática, a política espanhola, antes dominada pela alternância entre PP e PSOE, depois confrontada com o desafio de dois novos concorrentes, Podemos e Ciudadanos, agora está em fase de empate técnico entre três forças, cada uma com à volta de seis milhões de eleitores – embora com Ciudadanos a destacar-se, com mais 400 mil eleitores potenciais do que o PP.

O PP sofre as consequências do impasse que está a bloquear a Espanha política; Rajoy. Ciudadanos impõe-se como a liderança frente ao independentismo catalão. O PSOE, depois de várias derivas, ainda parece à procura de discurso firme de alternativa. Podemos, perdido em contradições internas, cai de modo tão fulgurante quanto o da escalada, em 2012, com os indignados na rua.
A cena política espanhola entra num cenário mais fragmentado. Os últimos anos mostram que os ventos eleitorais estão a puxar frequentes mudanças de direção na preferência dos eleitores.

Há uma evidência: a direita espanhola, vasta, mostra cansaço de Rajoy. Houve tempos em que a alternativa aos conservadores era o PSOE – foi assim que apareceu Zapatero. Agora, pelo meio, entre o PP e o PSOE, irrompe o partido Ciudadanos, formado há apenas 12 anos. Aparece como uma novidade que capta quem está farto do sistema político espanhol.

Mas há uma questão fundamental por resolver: como deve evoluir o Estado espanhol de modo a superar a indiscutível crise institucional? É muito interessante para a discussão o pensamento escrito nesta segunda-feira por Juan Luis Cebrián, fundador e presidente do jornal El País: defende que a revisão da constituição é primeira prioridade. Também que é preciso robustecer o estado das autonomias, reconhecendo o carácter federal.

A Espanha, como federação de estados, talvez seja o abrir de solução para a questão catalã – e também a espanhola.

VALE VER:

A fotografia distribuída pelo Papa. Com um alerta: estamos no limite para o risco de guerra nuclear.

A nova imagem do The Guardian. Resulta assim.

Dolores O´ Riordan: o adeus a uma artista luminosa, que ousava experimentar e inovar.

Uma primeira página escolhida hoje: esta, da The New Yorker.