“O mercado está um desastre e é o mercado mundial”, quem o diz é um agente literário norte-americano. Portanto, o drama não é nacional. Ok. Não se consegue tirar qualquer consolo desta realidade.

“Não sei onde vamos parar”, suspirou-me uma editora da nossa praça. O que se passa? Os livros não vendem. Nenhum autor que tenha recebido direitos de autor este ano conseguirá sorrir.

Há excepções? Sim, é verdade, já se sabe que sim. Mas as excepções são isso mesmo, excepções. Capas com letras a dourado e indicação de best-seller do jornal estrangeiro A ou B já não surtem o mesmo efeito. É difícil vender livros, é difícil pensar carinhosamente na ideia de que um dia, quem sabe?, conseguiremos viver desse ofício solitário que é a escrita.

O mundo de hoje faz-se em frente ao ecrã, do smartphone, do computador ou tablet, e pouco mais importa. As redes sociais roubaram-nos o tempo para fazer muitas coisas, entre eles ter capacidade para sair para a rua e entrar numa livraria. Roubaram-nos concentração e os miúdos de hoje estudam com televisão, computador, consola, telemóvel. É a realidade deles. Talvez por isso alguns torçam o nariz quando têm de ler Camões ou, esforço suplementar!, Agustina Bessa-Luís.

Sem livros não há pensamento e sem pensamento não há civilização. Parece uma lapalissada banalzinha sem qualquer importância, mas não é. Não podemos achar normal que para entender "Os Maias" os miúdos do secundário se auxiliem somente de um livro de resumo da obra. Não podemos estar permanentemente ligados nas redes como se não existisse mais nada.

Neste país de escritores e poetas – e de enorme qualidade – vivemos um momento terrível: há mais escritores do que leitores. Pela parte que me toca, vou sair da internet e comprar um livro. Pergunte-se: há quanto tempo não faço o mesmo? Pois.

Até podia dizer que a feira do livro de Lisboa inaugura no dia 1 de Junho, contudo sei que é indiferente. No ano passado, em plena feira, uma criança pedia um livro, a choramingar, e o pai respondeu: “Nós viemos comer gelados. Não se pode ter tudo.” É isto. Não se pode ter tudo.