Francisco não parece ter os 80 anos que tem, transmite com aquele sorriso fraterno energia que parece revolucionária. Mais do que um educador, chega-nos como um amigo. É alguém que acredita na alegria da vida. É um pontífice de vanguarda, americano argentino.
Nesta época de ausência de lideranças morais, a figura de Jorge Mario Bergoglio emerge como referência que transcende o mundo católico. A carga ética da voz do Papa chega a todos. É significativo que Trump tenha escolhido o Vaticano para a sua primeira viagem presidencial fora dos EUA.
É um papa que reposiciona a igreja católica na cena pública global. Francisco está presente com autoridade moral como promotor de conciliação, como aconteceu para o fim da “guerra fria” entre os EUA e Cuba, as contínuas iniciativas pelo diálogo entre Israel e a Palestina, pela paz na Colômbia ou nas tentativas de pontes para compromissos entre governo e oposição na Venezuela. Este Papa procura não apenas salvar almas, também os corpos. Trata não apenas de aparecer próximo, também decisivo. Ousou apresentar uma primeira encíclica “ecológica”.
O pontificado de Francisco, embora pacato no tom, é incisivo na acção. Ousa dar passos por caminhos que parecem impossíveis: da primeira saída a Lampedusa à viagem sem blindagem, há dias, ao inflamado Cairo. Muitos mais gestos: o encontro com Fidel, a missa celebrada na fronteira entre o México e os Estados Unidos, a presença no campo de refugiados de Lesbos, as visitas improvisadas aos sem abrigo e aos presos em cadeias de Roma, a viagem à Suécia para evocar Lutero, a carta aos grandes para o acolhimento aos refugiados e pela paz na Síria. Gestos que dizem mais do que discursos, e que nos tocam a todos. É um papa que propõe a igreja como hospital de campanha onde há piquetes em contínua emergência para sarar feridas.
Em tempos de guerra contra os infiéis, este é um Papa que reforça o ecumenismo e a aproximação. Está na memória o Papa espiritual que na Turquia rezou com o Patriarca ortodoxo de Constantinopla e com o grande mufti da Mesquita Azul. É alguém que ampara a recomposição da diversidade.
Vê-se que o olhar do Papa que estará em Fátima no fim desta semana observa mais com o coração. Também é um olhar agudo para descobrir nas pessoas os seus sofrimentos e não tanto os erros cometidos.
O Papa Francisco é referência principal neste nosso tempo. Tem um sentido de liderança, com comprometimento humano, que é rara no mundo contemporâneo. É um Papa nada convencional.
RECOMENDAÇÕES:
O retorno ao Afeganistão. Cenas do regresso a casa de refugiados afegãos, contadas pelo The New York Times.
No Dia da Europa, um manifesto para a esperança de reinvenção da Europa.
A discussão na The New Yorker sobre Trump e os media.
Uma nova Atenas que quer ressurgir, contada pela BBC.
Duas primeiras páginas escolhidas nesta terça-feira: esta e esta.
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