Questionado se ficou alguma noite sem dormir por causa da candidatura, o ex-secretário de Estado Adjunto e da Economia afirmou: "A última foi talvez a pior".

O anúncio de que Lisboa tinha vencido estava marcado para 23 de setembro, de manhã, mas na véspera, cerca das 23:30, "o Turismo de Lisboa decidiu que não pagava o IVA" de um montante que Leonardo Mathias já não se recorda.

"E isso representaria ainda um montante relevante", explicou, adiantando que na altura "não tinha ligação direta" a este organismo.

"Foi um trabalho absolutamente extraordinário do João Cotrim de Figueiredo [na altura presidente do Turismo de Portugal] pela noite fora a tentar, por um lado, convencer o Turismo de Lisboa que se todos os organismos intermédios pagavam IVA porque é que eles não pagavam", prosseguiu.

Mas "o senhor amuou" e afirmou que "não pagava, não pagava, não pagava. Não saía dali" e era preciso resolver o impasse.

Em alternativa, "tentámos entre o Turismo de Portugal e a AICEP encontrar uma forma de atenuar: Lisboa não pagaria esse IVA, tinha que ser pago pelos outros" e "só às três e meia da manhã enviei um SMS" ao vice-primeiro-ministro da altura, Paulo Portas, "a dizer: Não há problema, temos assinatura amanhã às 8:00", continuou Leonardo Mathias, que apenas dormiu "umas horitas" nessa noite.

"Nessa noite teve para não haver Web Summit por causa de um IVA do Turismo de Lisboa, portanto, o absurdo é total", salientou.

A situação só ficou resolvida porque a AICEP e o Turismo de Portugal aumentaram a dotação.

Mas muitas mais peripécias aconteceram durante o processo de candidatura.

Leonardo Mathias partilhou ainda outra história, aquela em que um dia, a meio da proposta, recebeu um telefonema do comendador Rocha de Matos, responsável da FIL, a dizer que alguém se tinha enganado e dado a data errada da realização da Web Summit.

Havia um problema, entre 7 e 10 de novembro estava já agendada uma exposição automóvel e a cimeira das tecnologias estava marcada para essa data, mas em 24 horas a questão acabou por ficar resolvida.

Outra das curiosidades foi quando se descobriu que a Holanda acompanhava passo a passo cada proposta que Portugal fazia, o que levou a que as comunicações entre Paddy Cosgrave, presidente e fundador da Web Summit, e Leonardo Mathias passassem a ser feitas através de sinal encriptado.

"Essa foi uma das minhas vitórias, tive dossiês se calhar tão ou mais complicados, mas deu-me um particular gozo com outros, mais fortes, mais ricos, 'soit-disant' [como se diz] melhores, e ganhámos", concluiu Leonardo Mathias.